Os mercados globais parecem determinados a encerrar fevereiro em um clima de tensão, com investidores digerindo o novo surto comercial de Donald Trump. O presidente americano reafirmou que as tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México entrarão em vigor no dia 4 de março, enquanto os produtos chineses enfrentarão um novo acréscimo de 10% — ou, como ele próprio destacou, “10% + 10%”, dobrando a tarifa anterior. Naturalmente, esse cenário é visto como nocivo para a economia global. As tarifas não apenas representam um risco direto ao crescimento dos EUA, mas também elevam a inflação e aumentam o risco de recessões tanto no México quanto no Canadá. A China, por sua vez, já deixou claro que responderá com todas as medidas necessárias, elevando ainda mais o tom da disputa comercial. Resultado? O mercado está em modo defensivo, refletindo um dia de fortes quedas na Ásia e uma sexta-feira (28) pesada para os ativos europeus e os futuros americanos.
Aqui no Brasil, ficaremos temporariamente blindados do estresse global, já que o Carnaval nos manterá fora do jogo. Mas essa trégua será apenas ilusória. Assim como os líderes europeus estão atentos às tarifas recíprocas que entrarão em vigor no dia 2 de abril, o Brasil também precisa se preparar para possíveis impactos. Quando os mercados locais reabrirem, será necessário um verdadeiro “catch-up” com o desenrolar dos acontecimentos globais. Enquanto isso, em Washington, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky visita a Casa Branca para assinar um novo acordo com os EUA, na esperança de garantir mais apoio na guerra contra a Rússia. Paralelamente, seguem as negociações entre Israel e Hamas para a fase 2 do cessar-fogo em Gaza. Esses eventos acabam funcionando como vetores de redução de risco global, ajudando a aliviar a pressão sobre o petróleo, que caminha para sua primeira queda mensal desde novembro — essa baixa também reflete a incerteza em relação ao crescimento global, às ameaças tarifárias e aos sinais de desaceleração nos EUA.
O Mercado em 5 Minutos retorna na quinta-feira que vem, dia 6 de março.
· 00:53 — Esvaziada(o)
No Brasil, a agenda doméstica está tão vazia quanto a força política do presidente. Sem nenhum gatilho relevante no cenário local, o mercado fica à mercê do ambiente internacional enquanto aguarda — sem grandes expectativas — eventuais novidades de Brasília, que, como manda a tradição nacional, só devem aparecer depois do Carnaval. Ontem (27), o Ibovespa fechou praticamente estável, segurando as pontas mesmo diante do tombo das ações da Petrobras (PETR4), que ainda refletem os péssimos resultados divulgados na noite de quarta-feira. Como já discutimos, os números da estatal acendem um sinal de alerta importante, ainda que parte do impacto tenha sido impulsionado por fatores contábeis relacionados à variação cambial no final do ano passado. No entanto, independentemente da explicação técnica, a percepção do mercado é ruim — e em um governo que parece cada vez mais inclinado a dobrar a aposta em medidas heterodoxas no melhor estilo “Era Dilma”, isso é um problema sério.
A pior notícia para o governo sempre parece ser a próxima. As pesquisas continuam mostrando uma queda consistente na aprovação de Lula, que já ultrapassa os 60% em pelo menos seis Estados. O diagnóstico é claro: a deterioração econômica, a paralisia política e a desconexão com a realidade do brasileiro médio estão cobrando seu preço. Parte dessa crise vem da lentidão do próprio governo. Lula já não tem mais a mesma agilidade política de outrora e sequer consegue conduzir uma reforma ministerial. O Centrão está impaciente, e para piorar, o protagonismo de Gleisi Hoffmann, que deve ganhar uma pasta palaciana, causa incômodo — a presença de uma figura tão estridente da ala política no núcleo duro do governo só aumenta as preocupações.
E como se não bastasse a gestão atabalhoada, o governo continua apelando para paliativos pouco eficazes para tentar conter a inflação e recuperar a popularidade. Agora, estuda reduzir o imposto de importação sobre produtos agropecuários como milho, trigo, óleo de soja e etanol, na ilusão de que isso aliviará os preços dos alimentos e ajudará a recompor o capital político de Lula. Mas sejamos realistas: essa estratégia dificilmente terá qualquer impacto significativo. O que realmente poderia ajudar a controlar a inflação de alimentos seria um real mais valorizado — algo impossível sem um mínimo de responsabilidade fiscal — ou uma safra agrícola excepcionalmente boa, o que está fora do controle do governo. Para complicar ainda mais, a força global do dólar, impulsionada pelas novas ameaças tarifárias de Trump, coloca pressão adicional sobre o câmbio. O caminho até 2026 será longo, acidentado e, ao que tudo indica, trilhado sem a bússola do pragmatismo econômico.
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· 01:41 — Não importa o quão bom seja
Nos EUA, nem mesmo os resultados da Nvidia (NVDC34) foram suficientes para reacender o entusiasmo com o mercado de IA. A gigante da tecnologia superou as expectativas de lucro e indicou que a demanda segue robusta, mas suas ações desabaram quase 9% na quinta-feira (27) — a maior queda pós-resultado desde novembro de 2018. O grande temor? Que, apesar do crescimento ainda expressivo, ele já tenha atingido o pico.
Sejamos diretos: o resultado foi robusto, mas o mercado financeiro, sempre ansioso e repleto de imediatistas, parece ter se lançado numa busca frenética por qualquer sinal de fragilidade para justificar uma realização de lucros. O resultado? O índice Nasdaq, que já vinha tropeçando — com quedas em cinco dos últimos seis pregões —, fechou no menor nível desde novembro. O contraste com 2024 é gritante: no ano passado, investidores não conseguiam conter a euforia com qualquer empresa que prometesse lucros impulsionados pela inteligência artificial. Agora, o jogo virou.
Hoje, porém, os holofotes se voltam para outro tema: a inflação. Em vez de acompanhar balanços corporativos, os investidores estarão de olho no Índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de janeiro, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve. Se os números vierem dentro do esperado, pode haver um alívio nas apostas de cortes de juros ainda em 2025. Caso contrário, o humor azedo do mercado deve persistir — e a narrativa da “bolha da IA” ganhará ainda mais combustível.
· 02:38 — The Tariff Man
Trump voltou a chacoalhar os mercados ao reafirmar que as tarifas sobre o Canadá e o México entrarão em vigor na próxima semana, conforme planejado. Os investidores foram pegos de surpresa, pois muitos acreditavam que a medida seria novamente adiada ou, pelo menos, atenuada — afinal, o presidente já havia utilizado tarifas como moeda de troca para arrancar concessões. Para quem ainda nutria esperanças de um recuo, eis a realidade: desta vez, Trump não parece disposto a ceder.
As tarifas sobre importações do México e do Canadá serão de 25%, enquanto as da China enfrentarão um acréscimo de 10% sobre os 10% já anunciados no início do mês. Os mercados, claro, ainda se agarram à possibilidade de uma reviravolta, mas é bom não contar com isso. De acordo com a Casa Branca, a única forma de reverter as tarifas seria se houvesse “progresso real“ no combate ao tráfico de fentanil — medido não por promessas, mas por dados concretos, como redução nas importações ilegais ou nas mortes relacionadas à droga. Em outras palavras, mesmo que Canadá e México tentem negociar um alívio de última hora, suas chances são praticamente nulas.
Como esperado, o clima já começa a azedar nos EUA. Não é só o mercado que está inquieto — os consumidores também sentem a tensão no ar. O receio de preços mais altos e impacto na economia real cresce a cada nova ameaça tarifária. Se Trump buscava reafirmar seu controle sobre o tabuleiro global, conseguiu. Agora, resta saber se a jogada não sairá pela culatra (não sabemos as consequências de longo prazo do isolacionismo americano nos dias atuais e eu temo que o resultado não seja bom).
· 03:26 — Business as usual
Hoje, o líder ucraniano se reúne com Trump na Casa Branca para formalizar um acordo que, na prática, coloca um preço na continuidade do apoio dos EUA a Kiev: o controle de uma fatia generosa das futuras riquezas minerais da Ucrânia. O foco da negociação? Os cobiçados minerais de terras raras, um grupo de 17 elementos essenciais para a produção de armamentos, turbinas eólicas, baterias de veículos elétricos e outros componentes eletrônicos modernos.
Entre os metais mais estratégicos estão neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, cujos preços despencaram no último ano devido à queda na demanda por veículos elétricos. Até os anos 1990, os EUA lideravam a produção global dessas matérias-primas. Hoje, a China domina cerca de 70% da extração bruta e quase 90% da capacidade de refino. E Pequim não hesita em usar essa posição como arma geopolítica: em 2010, por exemplo, cortou as exportações de terras raras para o Japão e já ameaçou fazer o mesmo com os Estados Unidos em diversas ocasiões.
O problema? A Ucrânia, apesar de ter reservas, mal explora esses minerais atualmente. Além disso, parte desses depósitos está justamente no leste do país – território atualmente ocupado pela Rússia. E é aqui que o jogo de Trump começa a ganhar forma: ao garantir o controle dessas riquezas sob um acordo de segurança, ele busca enfraquecer a influência chinesa, consolidar um novo fluxo de fornecimento estratégico para os EUA e, de quebra, pressionar Moscou no território ocupado.
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· 04:15 — E o que fazer com a Rússia?
Se o acordo de paz realmente sair do papel e Trump conseguir recuperar parte do território ucraniano (o que, sejamos francos, dificilmente incluirá tudo), qual será o próximo passo? Uma reabilitação gradual da Rússia na comunidade internacional? Tudo indica que sim. Os russos já estão, discretamente, tentando seduzir empresas americanas a retomarem operações no país, três anos após a invasão da Ucrânia.
Trump, que recentemente quebrou com os aliados europeus para negociar diretamente com Vladimir Putin, revelou esta semana que as conversas entre Washington e Moscou não se limitam apenas ao campo diplomático, mas também envolvem oportunidades econômicas. E Putin, claro, entendeu o recado. Em um movimento oportunista, já acenou com vantagens para empresas americanas que toparem voltar, oferecendo participação em projetos estratégicos de mineração e produção de alumínio na Rússia.
O problema? As empresas que abandonaram a Rússia às pressas em 2022 perderam bilhões e muitas delas tiveram ativos confiscados pelo governo russo. Ou seja, não será tão fácil convencê-las a voltar para um mercado que já as queimou antes. Mesmo que Trump consiga suspender as sanções contra Moscou, nada garante que as relações entre EUA e Rússia não irão azedar novamente. No fim, qualquer tentativa de reintegração será um processo longo, turbulento e sujeito ao imprevisível fator Putin.
· 05:03 — Reindustrialização
Está cada vez mais evidente que Trump não está apenas blefando quando fala em tarifas. Seu objetivo final, como já discutimos, é claro: impulsionar a reindustrialização dos Estados Unidos a qualquer custo. Nesse cenário, algumas oportunidades de investimento continuam chamando minha atenção, especialmente após a volatilidade recente, que pode ter criado pontos de entrada interessantes…
O post Tarifas dos EUA sobre importações do Canadá e México devem começar a valer na próxima semana e Carnaval ‘blinda’ Brasil de estresse global; veja os destaques da próxima semana apareceu primeiro em Empiricus.