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Talvez irresponsável, mas não irresponsivo

À beira do abismo fiscal – e, por conseguinte, do abismo político –, Lula III vai dar um passo para frente ou dois passos para trás?

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Diante de um dilema tão radical, talvez algo tenha mudado (para melhor) nesta semana; ao menos, é o que parece.

Finalmente, surgem declarações firmes de Haddad e Tebet sobre a urgência de corte e controle dos gastos públicos, inclusive usando um framing bastante caro à cartilha de esquerda: o combate a privilégios e abusos. Em particular, supersalários (saudades do hífen) do funcionalismo e giro oportunista do seguro-desemprego.

Os maus políticos sempre podem apelar para o populismo e jogar para a torcida

Já os bons políticos, com um pouco de criatividade e vontade, conseguem encaixar medidas difíceis dentro de suas matrizes ideológicas, sem gerar grandes atritos na base.

Mas voltemos à Faria Lima.

Até semana passada, boa parte dos institucionais locais preferia trabalhar com as premissas de um Governo irresponsivo.

Acho até natural que a tchurminha da Faria Lima veja o Governo atual como irresponsável, faz parte da catequese.

Mas taxá-lo de irresponsivo me parece bem menos óbvio, e bem mais perigoso

Como baseline, a premissa irresponsiva dificilmente conversa com a realidade, pois a função reação do Poder Executivo não deve ser estimada apenas de acordo com discursos políticos, ideologias e vontades íntimas.

No fim das contas, o que diferencia os amantes do Poder é o senso de pragmatismo e a luta – pura e simples – pela sobrevivência.

Nesse sentido, é perfeitamente possível que aquele Lula que não quer tirar o pobre do orçamento e que questiona os interesses autocentrados da Faria Lima seja o mesmo Lula capaz de entregar uma proposta de corte de gastos suficiente para apaziguar os ânimos e estabilizar a dívida/PIB.

Ironicamente, se é verdade que Lula ainda nutre ressentimento em relação a parte do empresariado nacional que o “abandonou” na prisão e que cultiva um desejo de vingança contra a Faria Lima, sua melhor resposta racional neste momento seria justamente o corte de gastos; pegaria a tchurminha no contrapé.

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