Ontem, a ata da reunião de janeiro do Federal Reserve trouxe exatamente o que se esperava: um tom mais cauteloso, refletindo as incertezas que pairam sobre a economia americana, especialmente diante das políticas comerciais do presidente Donald Trump. A preocupação com o potencial inflacionário das novas tarifas propostas por Trump foi destacada como um risco considerável. Diferentemente do primeiro mandato, as empresas agora parecem mais propensas a repassar os aumentos de custos aos consumidores finais, talvez porque, no contexto pós-pandemia, os consumidores já estejam mais acostumados com reajustes de preços.
Entretanto, o fato de o Fed adotar uma postura paciente em relação aos cortes de juros não significa que eles estejam fora do horizonte para 2025. Continuo acreditando que veremos reduções na taxa básica a partir do segundo semestre, mesmo que em um ritmo mais moderado do que o inicialmente projetado. Isso contrasta com o cenário chinês, onde, por conta das crescentes tensões comerciais com os EUA, o Banco Popular da China optou por manter as taxas de juros inalteradas durante a madrugada.
Sem grandes catalisadores específicos para o pregão de hoje (20), o mercado deve continuar digerindo os mesmos vetores de ontem (19), enquanto monitora pronunciamentos de autoridades monetárias e a divulgação de resultados corporativos. Vale destacar que esses resultado têm fortalecido a tese de rotação setorial já abordada por aqui, com empresas fora do núcleo de tecnologia ganhando protagonismo nos portfólios.
· 00:57 — Lula está doidinho para dobrar a aposta
A temporada de resultado corporativos no Brasil do 4T24 ganhou força na noite de ontem, com o mercado digerindo os resultados de empresas de peso como Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4) e Banco do Brasil (BBAS3). Entre os destaques, as ADRs da Vale sobem no pré-mercado de Nova York, mesmo após a mineradora reportar um prejuízo atribuível de US$ 694 milhões no quarto trimestre de 2024, que reflete, em grande parte, os efeitos da depreciação do real na marcação a mercado de swaps de obrigações, um impacto contábil que, embora expressivo, não altera substancialmente a operação subjacente da companhia.
Em contrapartida, as ADRs da Gerdau recuam nesta manhã, refletindo a decepção com um lucro abaixo das expectativas, registrando uma queda de 9% em relação a 2023. Já o BB apresentou resultados em linha com as projeções, com algumas métricas ligeiramente acima. O foco agora se volta para outras empresas relevantes, como B3 (B3SA3), Lojas Renner (LREN3) e Rumo (RAIL4), que divulgam seus números ao longo do dia de hoje (20).
O mercado doméstico, por sua vez, enfrentou um pregão desafiador na quarta-feira (19), marcado pela desvalorização do real e pela queda do Ibovespa. É importante lembrar que, após um rali expressivo nos primeiros 50 dias do ano, algumas correções são normais (árvores não crescem até o céu). Por outro lado, o sentimento está dividido: de um lado, a expectativa de uma possível mudança no pêndulo político em 2026, com a ascensão de um candidato pró-mercado e fiscalmente responsável, o que seria um vento favorável para os ativos locais; de outro, a consciência de que os fatores externos que pressionaram os mercados no ano passado permanecem vivos.
Embora o mercado tenha espaço para continuar subindo — afinal, as quedas de 2024 já foram suficientemente dolorosas — o caminho até as próximas eleições será, inevitavelmente, marcado por turbulências. A postura do governo será determinante nesse cenário, e as últimas sinalizações não inspiram confiança. A fritura pública do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conduzida por alas mais ideológicas do governo, é emblemática. Haddad, um dos poucos no governo que sabe somar, vem sendo sistematicamente minado por ministros da ala mais tradicional do PT.
Além disso, as recentes declarações do presidente Lula reforçam esse desalinhamento com a realidade. Em tom teimoso e desconectado das projeções econômicas mais plausíveis, ele afirmou que o Brasil crescerá 3,8% em 2025 e descartou qualquer possibilidade de reforma ministerial, declarando que “essa palavra não existe na minha boca, mudo quando quiser”. Ambas as afirmações carecem de fundamento: as previsões mais realistas apontam para um crescimento próximo à metade desse número, e uma reforma ministerial é praticamente inevitável — não por vontade própria, mas por necessidade política. Em um ambiente já instável, essa postura só reforça a percepção de risco e a probabilidade de novas ondas de volatilidade.
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· 01:41 — Alívio ou cautela?
Nos EUA, o Federal Reserve divulgou ontem a ata da reunião do Comitê de Política Monetária de janeiro, trazendo exatamente o que o mercado esperava — ou melhor, o que ele precisava para manter o otimismo. Sem surpresas ou declarações mais duras, o documento reforçou a postura cautelosa da autoridade monetária, destacando que os membros do FOMC querem ver avanços mais consistentes no combate à inflação antes de considerar novos cortes nas taxas de juros. O alívio foi imediato: o S&P 500 garantiu seu segundo fechamento recorde consecutivo. Curiosamente, os investidores parecem ter ignorado completamente as incertezas vindas da Casa Branca, preferindo focar na estabilidade que, ao menos por ora, o Fed oferece.
A próxima reunião do FOMC está agendada para 19 de março, mas os cortes de juros continuam fora do radar no curto prazo. As chances de um corte já em maio permanecem baixas, embora saltem para as reuniões seguintes, refletindo a expectativa de que a economia americana, em algum momento, dará sinais claros de desaceleração. Enquanto isso, a agenda de hoje reserva a leitura semanal dos pedidos de seguro-desemprego, sempre um termômetro do mercado de trabalho, além de uma nova leva de resultados corporativos. Entre os destaques estão gigantes como Walmart, Alibaba, Booking, Hasbro e Newmont — empresas que podem não só mexer com o humor do mercado, mas também oferecer pistas sobre a saúde da economia.
· 02:39 — Ditador?
Em um novo capítulo das tensões geopolíticas, Donald Trump voltou a provocar polêmica ao chamar Volodymyr Zelenskiy de “ditador”, poucas horas depois de o presidente ucraniano acusá-lo de sucumbir à desinformação russa. A troca de farpas ocorreu em meio às pressões de Trump para que a Ucrânia apoie seus esforços de paz, enquanto ele insinuava a possibilidade de um encontro com Vladimir Putin — algo que soou como uma ameaça tanto em Kiev quanto nas principais capitais europeias.
A resposta de Zelenskiy foi contundente: ele rejeitou veementemente as alegações de Trump, que havia afirmado que Kiev deu início à guerra e que o presidente ucraniano estaria enfrentando índices de aprovação de um dígito. Em um tom ainda mais agressivo, Trump contra-atacou nas redes sociais, alertando que Zelenskiy deveria agir rapidamente, “ou ele não terá mais um país para governar.”
O episódio acentuou as preocupações na Europa sobre a crescente proximidade entre a equipe de Trump e o Kremlin, alimentando temores de que um eventual segundo mandato do republicano poderia redefinir a postura dos EUA em relação ao conflito. O sinal é claro: Washington já parece estar recalculando suas prioridades, deixando cada vez mais incertas as perspectivas para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.
· 03:22 — Acordo comercial
O presidente Donald Trump afirmou que um novo acordo comercial com a China é viável, destacando que mantém um relacionamento positivo com o presidente chinês Xi Jinping. No entanto, dada a conhecida propensão de Trump para declarações exageradas e, muitas vezes, contraditórias, os investidores têm recebido tais pronunciamentos com ceticismo, aplicando um desconto considerável sobre as falas.
Diferentemente das negociações durante seu primeiro mandato, Trump sugere que este novo acordo teria um escopo significativamente mais amplo, englobando compromissos de investimento substanciais, a ampliação das compras chinesas de produtos americanos e até mesmo aspectos relacionados à segurança de armamentos nucleares. As tarifas de 10% sobre produtos chineses, junto com ameaças como a possibilidade de revogar permanentemente as relações comerciais normais entre os países, são vistas como parte de uma estratégia calculada para pressionar Pequim.
Trata-se, sem dúvida, de uma proposta ambiciosa e multifacetada, que, se concretizada, poderia redefinir as relações econômicas e geopolíticas entre as duas maiores economias do mundo. Contudo, o sucesso dessa iniciativa dependerá não apenas da habilidade negociadora de Trump, mas também da disposição de Pequim em aceitar concessões que, até o momento, têm se mostrado difíceis de alcançar.
· 04:16 — O que é melhor para os ativos europeus?
A eleição federal alemã, marcada para 23 de fevereiro de 2025, ocorre após o colapso do governo de coalizão de Olaf Scholz. As pesquisas apontam a liderança do partido conservador CDU/CSU, seguido pela direita populista AfD, cujo crescimento pode frustrar expectativas de estímulo fiscal, caso supere as projeções. A disputa é, na prática, um referendo sobre a reforma fiscal, já que o impasse em torno do “freio da dívida” levou à queda do governo anterior. As propostas das principais legendas implicam um déficit adicional de 23 bilhões de euros (0,5% do PIB), acima do limite atual de 0,35%. Para flexibilizar as regras, seriam necessárias reformas que exigem aprovação de dois terços do parlamento, permitindo que uma minoria de oposição de um terço bloqueie as mudanças.
Os cenários prováveis incluem:
- grande coalizão (CDU/CSU + SPD) – o desfecho mais otimista para o mercado, garantindo estabilidade e maior flexibilidade fiscal;
- coalizão “Preto-Verde” (CDU/CSU + Verdes) – positivo para os ativos, mas com riscos de divergências ideológicas;
- coalizão tripla (CDU/CSU + SPD + Verdes/FDP) – moderadamente otimista para os investidores, exigindo mais concessões;
- cenário pessimista – se AfD, FDP e Die Linke somarem mais de 33% das cadeiras, formarão uma minoria de bloqueio, inviabilizando reformas e criando um ambiente de paralisia política.
A Alemanha, tradicionalmente austera, ainda possui espaço fiscal para investimentos, mas a governabilidade dependerá da nova composição parlamentar e da viabilidade de superar as barreiras constitucionais.
· 05:01 — A força do dólar
Scott Bessent enfrenta uma missão desafiadora e estratégica como novo secretário do Tesouro dos EUA. Sua tarefa é implementar um pacote econômico capaz de impulsionar o crescimento sem reacender as pressões inflacionárias – um desafio ainda maior diante das políticas centrais do Trump 2.0, como a redução da …
O post Repercussão dos resultados de Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4) e Banco do Brasil (BBAS3) no 4T24 agitam a bolsa nesta quinta-feira (20) – confira mais destaques apareceu primeiro em Empiricus.