Com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, uma das principais preocupações do mercado gira em torno de um possível aumento na inflação dos Estados Unidos e um consequente fortalecimento do dólar. Isso porque, a princípio, esse cenário poderia não ser muito bom para países emergentes.
Como explica Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research, de fato é esperada uma condução mais inflacionária por parte de Trump. “Algumas teses, por exemplo, são cortes de impostos, que seriam como esteroides para [crescer] a economia americana, além de aumento de tarifas para outros países, desregulamentação do setor financeiro e maior foco em combustíveis fósseis”.
No entanto, para mercados emergentes, Spiess espera um horizonte mais otimista do que os investidores estão pintando. “Um dólar e uma economia americana ainda mais forte e juros mais altos fragilizam um pouco os mercados emergentes, mas não é o fim do mundo”, comenta.
Possíveis tarifas de Trump podem beneficiar setores brasileiros ligados à infraestrutura
Na visão do especialista, parte das políticas tarifárias que Trump promete pode até beneficiar setores brasileiros.
“Se a China responder a respeito de [possíveis tarifas sobre] produtos agro americanos, o país vai começar a demandar mais produto brasileiro, o que é bom pra gente. Inclusive, tem nomes siderúrgicos com exposição aos EUA, como Gerdau (GGBR4/GOAU4), que se favorecem desse movimento”, explica.
Spiess acredita, especialmente, que setores ligados à “velha economia” (ou “economia tradicional”) vão demandar muita matéria-prima que hoje é produzida pelo Brasil.
Quem concorda com essa perspectiva é Larissa Quaresma, analista de ações da Empiricus Research. “Em várias commodities, vejo o Brasil substituindo a China nas relações comerciais com os Estados Unidos e, nas nossas relações com a China, substituirmos os EUA”. Como exemplo, ela cita commodities agrícolas e de metais e mineração.
“Então tenho concordado com o Spiess, cada vez mais, que a vitória de Trump não é tão ruim para o Brasil”, resume.
Ações da Gerdau dispararam após divulgação de resultados
Coincidência ou não, logo após a divulgação do resultado eleitoral e a publicação do balanço da Gerdau do 3T24, os papéis da companhia valorizaram 12,42% ao longo da semana passada. A cotação chegou a R$ 20,46 por ação – maior patamar desde agosto de 2023.
Para Henrique Cavalcante, analista de ações de siderúrgicas na Empiricus Research, além da qualidade do balanço em si, a reação de fato pode ter a ver também com a vitória de Trump.
“Mesmo diante de um ambiente de mercado desafiador, a gestão da Gerdau foi novamente capaz de entregar um bom resultado, proveniente de iniciativas internas para aumentar a rentabilidade do negócio”, avalia o analista.
Com propostas de políticas comerciais protecionistas nos EUA e uma história de apoio ao setor siderúrgico, a expectativa de Cavalcante é que os números melhorem na operação da América do Norte. “Isso, somado ao processo de recuperação na rentabilidade brasileira, deve impulsionar os resultados consolidados da Gerdau no médio prazo”, finaliza.
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