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‘O risco da renda fixa privada só não aparece porque não está na superfície’, afirma Felipe Miranda sobre a aversão do mercado à renda variável

Em um cenário de alta de taxas de juros e gastos públicos elevados, o Brasil tem enfrentado uma série de dificuldades que afetam diretamente a confiança dos investidores. Consequentemente, os recursos têm ido muito mais para renda fixa do que para a bolsa de valores.

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Em podcast do Market Makers, Felipe Miranda, analista-chefe da Empiricus Research, explica que a aversão a risco do mercado tem sido causada por três principais fatores: falta de clareza no ambiente fiscal, incertezas monetárias e o “restauracionismo” político – retomada de medidas do governo já antiquadas para a sociedade atual.

‘A performance da bolsa não tem feito jus à qualidade dos resultados das empresas’

Com esse cenário macroeconômico instável, a aversão ao risco tem se intensificado. Os investidores, temerosos das incertezas sobre cortes de gastos e sobre o rumo das taxas de juros, têm preferido alocar seus recursos na renda fixa, cuja rentabilidade até o vencimento pode ser conhecida antes do investimento.

Essa maior atratividade da classe de ativos tem refletido diretamente no desempenho da bolsa, que, na visão dele, tem apresentado retornos abaixo do esperado nos últimos meses, mesmo com ações muito baratas e empresas demonstrando qualidade em seus resultados do 3T24.

“A bolsa tem negociado a múltiplos baixos, de sete vezes lucro, enquanto o lucro das empresas segue crescendo 15, 20 vezes, o que configura uma zona potencialmente compradora para aqueles que têm um horizonte de longo prazo”, explica o CIO da Empiricus Research.

“É sintomático”, ele afirma, “Localiza (RENT3) trouxe um resultado ‘porrada’, assim como Porto (PSSA3), BTG Pactual (BPAC11), Itaú (ITUB4). Então você vê que as empresas estão bem”.

A renda fixa privada é realmente mais segura do que ações?

No entanto, Miranda observa que muitos investidores confundem um ciclo negativo com a ideia de que a classe de ativos em si seja ruim, referindo-se ao desempenho das ações brasileiras, além de alertar para o risco da renda fixa privada, que, em sua visão, não pode ser descartado.

“Um problema enorme é a incapacidade do investidor de avaliar o risco de crédito que está correndo. Por exemplo, um instrumento [na teoria] criado para reduzir essa assimetria de informação foram as agências de classificação de risco, que foram absolutamente descaracterizadas. Existe todo um conflito de interesse, porque a instituição contrata a agência para dar uma nota para si mesma. É coisa de maluco e a gente continua acreditando nessa história”, defende.

‘Título com cobertura do FGC não deveria ser critério de investimento’

Além disso, para Miranda, outro risco moral, mais em relação aos bancos, diz respeito ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que cobre até R$ 250 mil de determinados títulos privados em caso de falência da instituição emissora, mas cujo pagamento ao investidor pode ser burocrático e demorado.

“O FGC cria um ambiente de falsa segurança, incentivando os investidores a não avaliarem corretamente os riscos. Hoje em dia você vê os assessores incentivando a pessoa a investir na base do ‘não, fica tranquilo que qualquer coisa o FGC cobre’. Esse é o jogo que a gente está estimulando?”, questiona o analista.

‘Investidores acham que a renda fixa privada não tem risco só porque não tem volatilidade’

Outra questão, cita Miranda, é a relação entre risco e volatilidade, que costuma ser mal compreendida pelos investidores. “Não é porque esse o preço desse título não ‘pula’, como acontece com uma ação ou fundo imobiliário, que aquilo está controlado. Ainda existe a marcação a mercado. O risco só não aparece porque não está na superfície, mas ainda está debaixo do tapete”.

Rebate para assessores ainda é um problema estrutural

“E outro problema que eu vejo é que houve uma transferência muito grande de valor paro canal de distribuição de produtos das corretoras ao longo dos anos no Brasil”, comenta Miranda.

“Hoje, tem várias emissões de títulos que se a instituição reduzir a taxa pro investidor e aumentar o quanto paga de taxa de distribuição, ela capta mais. É um conflito gigantesco. E, assim, vai ser recomendado não o produto que é melhor pro investidor mas sim aquele que paga mais taxa”, explica.

‘Não é porque a renda fixa funcionou até agora que só ela será boa para sempre’

Outro viés do mercado citado pelo economista é o de achar que “o que está funcionando hoje vai extrapolar pro que vai funcionar para frente”.

“Com algumas exceções, o que funcionou no Brasil de fato nos últimos anos foi a renda fixa, e a bolsa performou mal. Aí o investidor confunde um ciclo ruim com uma classe [de ativos] ruim“.

Por fim, Miranda ainda destaca que um dos motivos da bolsa performar pior do que a renda fixa nos últimos anos é a maneira como o dinheiro de curto prazo – mais do que de longo – tem sido investido pelo mercado. “Se você olhar, tem investidor com LCI de vencimento em três meses, então não é que não tem dinheiro, mas ele está sendo muito capturado pela renda fixa”.

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