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O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer

O ministro Haddad afirma que o pacote de medidas fiscais está pronto e fechado com o presidente Lula. Faltaria só a resposta do ministério da Defesa.

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Há alguns dias, restavam apenas “dois detalhes singelos”, nas palavras do próprio ministro. Entendo que superamos a singeleza da dupla, quando então entrou a expectativa por um novo ministério a dar sua contribuição, depois de “boas reuniões com José Múcio.”

Aguardamos com ansiedade o pacote fiscal, sob o risco de apenas esperarmos por Godot. Gerentes de projeto com alguma noção de estatística e de variância infinita gostam de lembrar que a probabilidade de entrega no prazo é condicionada a frustrações anteriores.

Se você atrasa, e atrasa de novo, a expectativa de sua materialização vai se afastando no tempo, não se aproximando.

Nassim Taleb usa o exemplo de “The Opera House”, na Austrália, para atacar a premissa de eventos independentes e identicamente distribuídos: o edifício estava previsto para ser inaugurado em 1963, sob um custo de 7 milhões de dólares australianos; ficou pronto mais de dez anos depois, a um custo de 104 milhões de dólares australianos. Quase uma questão de arredondamento…

Diante das inconsistências do arcabouço fiscal e dos 14 pontos de aumento da relação dívida sobre PIB em apenas quatro anos, uma coisa podemos garantir: o Brasil voltou! Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro.

O Wall Street Journal estampa a coluna de opinião de Mary Anastasia O’Grady: “Brazil and Latin America’s Decline — Democracy and sound economy policy are on the wane, and Lula is leading the way”. Algo como: “O declínio do Brasil e a da América Latina — democracia e sólida política econômica estão em declínio, e Lula lidera o caminho.” 

O alerta é pertinente, mas cabe a ponderação: a América Latina alterna ciclos de economia política, não costuma ser um declínio ininterrupto. Parte dela já observa uma migração do pêndulo para a direção correta. Vale lembrar: o melhor mercado do mundo em 2024 é latino-americano, com Milei liderando o caminho.

Poderia ser um daqueles exercícios de aquecimento para testes de QI: “Substitua o X pelo nome apropriado respeitando a proporcionalidade: A) Trump, Macri, Bolsonaro; B) Biden, Fernandes, Lula; C) Trump, Milei, X…

Também ocupamos espaço da imprensa tradicional com o fatídico: “F*&# you, Musk”. John Gray está mesmo certo ao escrever que a caminhada do progresso técnico, científico e tecnológico é monotônica, vai sempre na direção do avanço.

O mesmo não se pode falar dos campos éticos, sociais e políticos. Se a substituição de Marcos Troyjo por Dilma Rousseff na presidência do Banco dos BRICs não era exemplo suficiente, agora temos também o paralelo entre Ruth Cardoso e Janja da Silva para demonstrar o argumento. 

O Janjismo me lembra de Elena Ceausescu, ex-primeira-dama da Romênia, autodeclarada a “melhor mãe que a Romênia poderia ter”, sem nenhum apreço real pelos seus “filhos” compatriotas.

Ficou famosa sua declaração: “os vermes nunca estão satisfeitos, mesmo que lhes demos muita comida”. Embora se atribuísse enorme importância, era figura desprezível, apenas adicionava volatilidade ao regime.

Acabou como uma das mulheres mais odiadas do regime. Tentou fugir da Romênia, mas foi capturada.

Janja e Erika Hilton são a versão da esquerda de Pablo Marçal: preocupam-se em pregar para convertidos, em frases de efeito que serão usadas apenas e tão somente para cortes lacradores nas redes sociais, sem qualquer compromisso público ou pensamento de Estado. 

O governo do amor destila ódio contra um dos maiores empresários do mundo, com cargo oficial na próxima administração da presidência dos EUA. Ofendê-lo gratuitamente serve a qual propósito? Em que medida isso pode ser bom ao país?

A resposta de Elon Musk veio bem ao seu estilo, com ironia e emojis no X (ex-Twitter): “They will lose the next election” (Eles vão perder a próxima eleição).

Não há qualquer garantia, claro. Também temos muito tempo até lá. Mas talvez seja verdade e isso importa mais do que qualquer outra coisa.

O investidor Pedro Cerize, também no X, sintetizou: “Vocês todos pessimistas com Brasil. Em dois anos, PT sai do poder. Em um ano, começa a campanha. Corte de gastos é irrelevante, Selic terminal, bla bla bla. Esse assunto aí acaba junto com esse governo. BUY Brazil.”

É um tanto simples e polemista. Discordo também que o corte de gastos seja irrelevante porque o nível de partida do novo governo importa.

Não podemos esgarçar a política fiscal a ponto de passarmos por histerese. Ponderações sutis e ressalvas importantes colocadas, a direção do tuíte é correta. Alinha-se com o proposto aqui mesmo nessas linhas previamente, resumido na ideia do “Pacto Fáustico”, de que o investidor de longo prazo deveria topar um ano ainda possivelmente ruim (na pior das hipóteses), para contratar nove anos bons.

Um rali eleitoral em 2026 com a migração do pêndulo político, quatro anos de um primeiro mandato reformista, seguida de uma reeleição em 2030, quando a esquerda não terá mais seu principal nome como candidato pela questão da idade.

Com um pouco de sorte, teremos o tal pacote de gastos para aliviar um pouco os elevados prêmios de risco, que pavimentaria a via para a possibilidade de corte da Selic ao final de 2025. 

Conforme demonstrou a última temporada de balanços, as empresas brasileiras seguem crescendo lucros e disparando um subsequente processo de revisão para cima nas projeções de resultados, o que sempre foi um catalisador interesse para o preço das ações – Localiza talvez seja o exemplo mais emblemático: há mais de ano, a companhia sofria com revisões para baixo em seu preço-alvo; acaba de sair a primeira elevação de target em muito tempo.

As empresas mantêm alavancagem baixa, boa geração de caixa e lucros crescendo dois dígitos. Você não precisa inventar a roda.

Itaú negocia a 8x lucros, que crescem em ritmo significativo. Porto Seguro tem a mesma foto e o mesmo filme.

Equatorial, uma das melhores empresas do Brasil, negocia a uma TIR real de 12%, sendo capaz de, mais uma vez, superar as estimativas de consenso. BTG Pactual negocia perto de 2x book e está recomprando suas próprias ações. Iguatemi está 8x P/FFO 2025.

Warren Buffett aconselha comprar empresas e negócios a prova de idiotas, porque, cedo ou tarde, um idiota pode vir a comandar essa empresa ou negócio. Possivelmente, a prescrição sirva para países também. 

A frase “vá se f….” é apenas um ruído de porta de cadeia.

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