Em geral, sou mais de mirar para frente do que olhar para trás.
Mas, à medida que envelheço, tenho usado as viradas de ano para tentar acessar as coisas que foram construídas sobre solo firme no ano que passou.
Em 2023, por exemplo, inaugurei uma prática de leitura.
Separei um pedaço da minha estante para enfileirar, em ordem cronológica, apenas os livros que eu li durante o ano.
Foi recompensante chegar em 31 de dezembro e olhar para esse pequeno recorte da minha vida.
Em média, para cada livro que eu leio do início ao fim, eu abandono três ou quatro no meio.
Então, esses 18 exemplares são reais sobreviventes e, de alguma forma, eu os carrego comigo a partir de agora, talvez para sempre.
Ainda que eu possa esquecer partes do enredo ou nomes das personagens, estarei permanentemente influenciado pelo espírito das histórias e das ideias contidas ali.
A reação imediata das pessoas quando olham para minha estante é: “Caramba, não tem muitos livros de economia aí, né? Imaginava que teria uns livros cabeludos de finanças”.
Não tem mesmo, ainda bem.
Primeiro, porque a maioria dos livros de economia são chatos, e eu não costumo devorá-los por inteiro; tento pegar apenas os raros pedaços que me interessam.
Segundo, porque eu já leio centenas de páginas sobre economia & finanças durante o meu trabalho, e chega uma hora que cansa. É importante alimentar interesses fora do âmbito profissional.
E o terceiro – e mais importante – motivo é aceitar a obliquidade da vida.
Você pode aprender sobre balanceamento de ativos ao ouvir a história de alguém que estava farreando demais e agora precisa de um pouco de disciplina para compensar.
E pode relativizar as trágicas dores de “white people problem” da Faria Lima ao mergulhar nas vidas de pessoas ou personagens que sofrem e sofreram de verdade.
Bem, essa foi minha estante de leitor em 2023.
Na minha estante de escritor, também posso me orgulhar de alguns pequenos feitos.
Nossa carteira de Microcaps terminou o ano com alta de +73,93%, contra +17,11% do Índice de Small Caps.
E até mesmo a carteira do Vacas (+24,54%), mais defensiva por focar em proventos, deu um jeito de bater o Ibovespa (+22,82%).
Agora, como eu disse, é hora de mirar para frente, liberar espaço e reinaugurar as estantes de 2024.
Que venha mais um ano de leituras e escritas significativas, para todos nós.
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