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Méliuz (CASH3): ‘Prefiro que a empresa pague dividendos e deixe o investidor decidir sua alocação’, afirma Felipe Miranda sobre compra de bitcoin pela companhia

Na última quinta-feira (6), a Méliuz (CASH3) anunciou a aprovação por parte do conselho de administração da criação de uma nova estratégia de tesouraria, voltada para a aplicação de recursos e realização de investimentos em bitcoin.

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A companhia investiu aproximadamente US$ 4,1 milhões em 45,72 unidades de BTC, a um preço médio de US$ 90.296,11 cada. À primeira vista, o mercado parece ter aprovado a estratégia da Méliuz, e as ações encerraram o pregão de quinta-feira em forte alta de 16,36%.

Mas, segundo o CIO e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, apesar de a empresa ter caixa e saúde financeira suficientes para fazer a aquisição, a decisão de alocação pode não ter sido a melhor para os investidores.

Confira a opinião do estrategista-chefe da Empiricus Research:

A Méliuz anunciou a aquisição de bitcoin como reserva de valor. Como você avalia essa decisão?

Felipe Miranda: “A empresa tem caixa e saúde financeira para fazer esse tipo de aquisição, e não me parece que está comprometendo um capex relevante. Contudo, eu não gostei. Mesmo que a Méliuz possa ganhar dinheiro com essa aposta — e somos otimistas com bitcoin — prefiro que a empresa pague dividendos e que cada investidor decida sua própria alocação de capital.”

Por que essa estratégia não faz sentido dentro do modelo de negócios da companhia?

FM: “Quando um investidor compra ações da Localiza (RENT3), por exemplo, ele espera que a empresa foque na melhoria da sua operação de aluguel e venda de frota, não que a tesouraria enxergue uma oportunidade de investir em outra companhia para lucrar. Da mesma forma, quem compra ação da Méliuz deveria estar investindo no modelo de negócio proposto pela empresa, e não em uma alocação especulativa em criptoativos. Se o investidor individual acredita na valorização do bitcoin, ele pode comprá-lo diretamente.”

Na sua visão, esse movimento indica algum sinal de alerta sobre a gestão da Méliuz?

FM: “Eu vejo essa decisão como um sintoma de uma empresa desfocada. A Méliuz poderia estar concentrada em fortalecer seu core business e gerar valor para seus acionistas. Pode ser um sinal preocupante.”

Essa decisão pode ser interpretada como uma tentativa de reverter um momento de dificuldade?

FM: “Essa movimentação da Méliuz pode ser entendida dentro de um contexto estudado por Daniel Kahneman e Amos Tversky na economia comportamental. Eles mostraram que os agentes não são avessos ao risco, mas sim à perda. Quando uma empresa se vê encurralada, pode assumir riscos que normalmente evitaria. Se uma pessoa saudável não aceitaria um tratamento experimental, alguém com três meses de vida talvez aceitasse. Vejo essa decisão da Méliuz como uma tentativa de ‘tirar algo da cartola’ diante de um cenário desafiador.”

O mercado reagiu positivamente ao anúncio. Como você interpreta esse movimento?

FM: “A ação da Méliuz subiu cerca de 20% após o anúncio, mas isso é irracional, um exagero. A empresa destinou aproximadamente 10% do seu caixa para bitcoin, então, para justificar um aumento desse tamanho no valor de mercado, o preço do bitcoin precisaria subir significativamente.”

Para o investidor que tem Méliuz (CASH3) em carteira, o que essa decisão significa?

FM: “O acionista que comprou a ação da Méliuz recentemente não comprou esse plano estratégico de investimento em bitcoin. Imagine, por exemplo, um investidor comprar ações de uma empresa de exploração de petróleo e, de repente, ela virar uma operadora de criptomoedas? No contexto da Méliuz, se fosse um movimento ainda maior que mudasse substancialmente a proposta do negócio, poderia ensejar direito de dissidência [direito de renunciar a ações caso o investidor não concorde com alterações relevantes na empresa e receber o valor correspondente]. Embora não seja esse o caso, reforça a ideia de que a empresa está se desviando do seu core business.”

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