A semana que passou foi relativamente tranquila, com poucos destaques tanto na agenda local quanto internacional. Essa calmaria se destaca ainda mais quando comparada às próximas semanas, que prometem ser significativamente mais movimentadas. No entanto, antes que essa agitação comece, observamos hoje (23) alguns resultados importantes nos EUA, incluindo as divulgações de AT&T, IBM e Tesla. Além disso, o mercado aguarda a publicação do Livro Bege do Federal Reserve, documento que reúne as percepções econômicas dos 12 distritos de atuação do banco central.
O dia também será marcado por discursos de figuras importantes de Bancos Centrais globais, como Christine Lagarde (BCE), Andrew Bailey (BoE) e Kazuo Ueda (BoJ), além de membros do Federal Reserve. Dada a expectativa elevada em torno de um possível ciclo de flexibilização da política monetária ao redor do mundo, especialmente nos Estados Unidos, investidores estarão atentos a cada pronunciamento, buscando qualquer indício que fuja do discurso habitual sobre a trajetória de juros.
Os mercados iniciam o dia sob pressão, refletindo o pregão asiático que terminou sem uma direção clara. Os índices europeus abriram em queda, acompanhados pelos futuros americanos, e a volatilidade é notável entre as commodities. Isso se acentuou após notícias sobre uma possível intensificação da ofensiva de Israel contra o Irã, que adicionou um novo componente de tensão geopolítica ao cenário.
Os investidores não estão apenas focados na trajetória de queda dos juros nos EUA, que se espera ser gradual, mas também nas eleições presidenciais americanas. As pesquisas mostram um crescimento da popularidade de Donald Trump, aumentando as especulações sobre os efeitos que um possível segundo mandato do ex-presidente poderia ter nos mercados globais.
A ver…
· 00:54 — Revisado para cima
No Brasil, a agenda econômica desta semana permanece esvaziada, e o mercado continua preso aos mesmos riscos de sempre, aguardando por novidades. Um dos eventos mais esperados é a participação de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em um encontro internacional. Ontem (22), ele voltou a expressar suas preocupações em relação à situação fiscal do país, reiterando um dos principais temas de incerteza no mercado.
Nem mesmo as recentes revisões do FMI, que elevaram a expectativa de crescimento do PIB brasileiro de 2,1% para 3%, conseguiram gerar otimismo significativo entre os investidores. Embora o governo tenha celebrado essa atualização, o mercado manteve uma postura cautelosa, já que a informação já era amplamente antecipada e, portanto, não trouxe surpresas. A principal questão que permanece é a sustentabilidade desse crescimento, que foi parcialmente sustentado por estímulos fiscais temporários.
Com a possibilidade de cortes nos gastos públicos e a manutenção de juros elevados, o cenário para 2024 pode não ser tão favorável, e o ritmo de crescimento deverá enfrentar desafios consideráveis. Assim, o mercado se mantém apreensivo, aguardando por sinais mais concretos de ajustes fiscais e de uma estratégia econômica que possa sustentar um crescimento sólido a longo prazo.
· 01:41 — Mais resultados
Nos Estados Unidos, o mercado tem mostrado uma resposta morna à boa temporada de resultados corporativos até agora, especialmente nesta semana. Desde segunda-feira, a volatilidade e o tom predominantemente negativo têm sido a tônica, e a manhã desta quarta-feira segue na mesma direção. Ontem, grandes empresas como General Motors, Verizon, Lockheed Martin e 3M divulgaram seus resultados, com destaque para a GM, cujas ações subiram quase dois dígitos no pregão.
Hoje, novas divulgações são esperadas, incluindo nomes de peso como AT&T, Coca-Cola, IBM, Newmont e Tesla. Entre elas, Tesla é, sem dúvida, o centro das atenções. Embora resultados acima das expectativas de lucro sejam sempre positivos, o foco dos investidores está principalmente nas margens de lucro da empresa, devido às preocupações persistentes com descontos agressivos e controle de custos. A expectativa é por uma melhora sequencial nas margens, especialmente porque os dados trimestrais de vendas e entregas de veículos já foram divulgados, e qualquer sinal de avanço nesta área pode ser um indicativo importante para o mercado.
Além do noticiário corporativo, outro evento de destaque nesta quarta-feira é a publicação do Livro Bege do Federal Reserve, a sétima edição do ano. O relatório oferece uma visão detalhada das condições econômicas em cada um dos 12 distritos regionais do Fed, reunindo informações qualitativas e anedóticas que ajudam a pintar um quadro mais claro sobre o atual estado da economia americana.
· 02:37 — Contradição?
Embora grande parte das atenções esteja voltada para os possíveis movimentos do Federal Reserve em relação às taxas de juros para 2024 e anos subsequentes, há outra área de política monetária que, apesar de menos comentada, é igualmente relevante: a redução gradual do balanço do Fed, conhecida como aperto quantitativo (QT). O balanço desempenha um papel crucial na implementação da política monetária, pois é por meio dele que o Fed administra as reservas mantidas pelos bancos. Essas reservas recebem um retorno sem risco, que acaba atuando como um piso para as taxas em todo o sistema financeiro, influenciando diretamente a taxa de fundos federais — a principal taxa de referência do Fed, que foi ajustada para uma faixa de 4,75% a 5% em setembro.
Durante períodos de crise financeira ou estresse econômico, o Fed utiliza seu balanço para injetar rapidamente liquidez na economia, assegurando o funcionamento contínuo do sistema de crédito. Um exemplo claro disso foi durante a pandemia de COVID-19, quando o Fed expandiu seus ativos de aproximadamente US$ 4,2 trilhões no início de 2020 para quase US$ 9 trilhões em seu pico, em 2022, comprando grandes volumes de ativos para estabilizar o mercado.
Desde março de 2022, no entanto, o Fed tem reduzido seu balanço de forma gradual, e na semana passada esse valor caiu para cerca de US$ 7 trilhões. O processo de aperto foi desacelerado em junho, e atualmente o Fed permite que até US$ 25 bilhões em títulos do Tesouro e até US$ 35 bilhões em títulos lastreados em hipotecas vençam mensalmente sem reinvestir os rendimentos.
Há uma aparente contradição nessa estratégia: enquanto a redução do balanço (QT) restringe a liquidez no sistema financeiro, o corte nas taxas de juros visa estimular a atividade econômica. Essas forças opostas geram uma tensão no cenário econômico atual, e a grande questão é qual delas prevalecerá em termos de impacto na atividade econômica nos próximos meses.
· 03:22 — Os BRICS+
Vladimir Putin conseguiu reunir pela primeira vez na Rússia os BRICS+, sinalizando que, ao contrário do que muitos podem imaginar, ele ainda está longe de estar isolado no cenário internacional. A reunião do grupo teve início nesta semana, mas contou com a ausência do presidente brasileiro, que sofreu um acidente doméstico no último fim de semana e foi aconselhado a não viajar.
O encontro teve como principal pauta a discussão sobre novas adesões ao bloco, que no final do ano passado já havia expandido para incluir Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Egito. A Argentina, sob o comando de Javier Milei, recusou o convite, enquanto a Arábia Saudita ainda está considerando sua entrada, com expectativas de uma decisão favorável em breve.
Uma das controvérsias mais sensíveis do encontro girou em torno da possibilidade de convidar a Venezuela de Nicolás Maduro, considerando o histórico recente de eleições controversas e acusações de fraude no país. No entanto, a delegação brasileira conseguiu barrar a entrada do país vizinho na lista de novos integrantes. Assim, os 12 países que serão oficialmente convidados a integrar os BRICS+ são: Cuba, Bolívia, Indonésia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Nigéria, Uganda, Turquia e Belarus. Entre esses, a Turquia é vista como a principal candidata à adesão.
Apesar de os BRICS+ terem um papel de relevância crescente, as divergências internas sobre quem deve ou não entrar no grupo são evidentes, refletindo as complexidades políticas e econômicas de seus membros. Fica cada vez mais claro que o Brasil, como uma democracia ocidental, se vê em uma posição de distanciamento em relação aos interesses e valores defendidos por outros integrantes do bloco. Ainda que o grupo busque se posicionar como uma força alternativa no cenário global, há uma sensação de que o que predomina são disputas de egos e interesses nacionais divergentes, dificultando uma verdadeira coesão entre seus membros.
· 04:15 — Um dia na Ásia
O mercado asiático encerrou a quarta-feira (23) sem uma direção clara, refletindo a cautela dos investidores diante do aumento dos rendimentos do Tesouro dos EUA e das incertezas em torno da eleição presidencial norte-americana. Esse cenário de apreensão manteve os investidores distantes de ativos de maior risco.
Entre os destaques do dia, o mercado de Hong Kong apresentou o melhor desempenho, impulsionado por um forte movimento de IPOs. A estreia de China Resources Beverage se destacou, elevando o otimismo na região. A empresa protagonizou o segundo maior IPO de Hong Kong neste ano, arrecadando cerca de US$ 540 milhões, ficando atrás apenas da Horizon Robotics, que levantou aproximadamente US$ 696 milhões.
Enquanto isso, os mercados chineses mantiveram sua trajetória de alta, estendendo os ganhos recentes após o Banco Popular da China ter surpreendido com um corte de taxas de juros acima do esperado na segunda-feira. Essa redução veio na esteira de uma série de medidas significativas de estímulo por parte de Pequim, com o mercado agora voltando suas atenções para possíveis novos anúncios sobre gastos fiscais durante a reunião do Congresso Nacional do Povo, marcada para o final de outubro.
· 05:06 — O rali do ouro
O ouro continua a brilhar cada vez mais intensamente, atingindo novos recordes e consolidando uma sequência de máximas históricas.
Desde o início de 2024, o preço do metal precioso subiu um terço, ultrapassando a marca de US$ 2.700 por onça em outubro. Esse movimento de alta foi impulsionado por tensões persistentes no Oriente Médio e pela incerteza em torno das próximas eleições presidenciais nos EUA…
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