Os Estados Unidos devem divulgar novos dados sobre os preços ao consumidor nesta terça-feira. A expectativa é clara: os números devem indicar alta da inflação nos EUA em junho. Esse avanço será impulsionado, principalmente, pela elevação dos custos de produtos importados.
A avaliação do mercado é que, mesmo com repasses ainda parciais aos preços, empresas começaram a transferir os custos adicionais para os consumidores. Isso ocorre após o esgotamento de estoques antigos, adquiridos antes da implementação das tarifas. Com essa dinâmica, os dados se tornam cruciais para as próximas decisões do Federal Reserve (Fed) em relação à taxa básica de juros.
Powell monitora os sinais de aceleração inflacionária
O presidente do Fed, Jerome Powell, já havia indicado que a instituição esperava por dados mais consistentes no segundo semestre para avaliar o impacto total das tarifas. Até então, os efeitos sobre a inflação nos EUA pareciam limitados. No entanto, com os últimos dados, essa leitura começa a mudar. Economistas ouvidos pela Reuters projetam que o índice de preços ao consumidor (CPI) tenha subido 3% no acumulado de 12 meses até junho, em comparação com os 2,9% registrados em maio.
Esse novo patamar pode elevar também o índice de preços de despesas com consumo pessoal (PCE), que é o principal indicador de inflação acompanhado pelo Fed. Caso a inflação permaneça acima da meta de 2%, o Comitê de Política Monetária (FOMC) poderá manter os juros elevados por mais tempo, o que reduz as chances de um corte em setembro.
Tarifas ampliam incerteza e alimentam o risco inflacionário
O governo Trump, por sua vez, segue endurecendo sua postura comercial. Após já ter imposto tarifas sobre automóveis, metais e diversos produtos industriais, agora considera novas tarifas de até 30% sobre importações vindas do México, Canadá e União Europeia. Essas possíveis medidas criam um ambiente de incerteza que pode pressionar ainda mais a inflação nos EUA.
De acordo com Michael Feroli, economista-chefe do JP Morgan, se as tarifas forem repassadas integralmente aos consumidores, o índice PCE poderá subir até 0,4 ponto percentual. No entanto, ele avalia que um repasse parcial, associado à compressão de margens pelas empresas, torna mais realista um impacto entre 0,2 e 0,3 ponto percentual.
Empresas ainda tentam conter o repasse aos preços
Apesar do cenário inflacionário emergente, muitas empresas tentam absorver parte dos custos para não perder competitividade. Segundo Gregory Daco, economista da EY-Parthenon, os efeitos das tarifas não são imediatos porque as empresas utilizam diferentes estratégias para diluir o impacto. Contudo, ele alerta que isso tem prazo limitado. “O ciclo de repasse está apenas começando e deve se intensificar nos próximos meses”, explica.
Além disso, a complexidade do cenário tarifário, com constantes ameaças e revisões, dificulta o planejamento corporativo. A incerteza gerada contribui para a deterioração da confiança empresarial, o que pode gerar novos aumentos de preços.
Perspectivas para juros e inflação no segundo semestre
Em maio, o índice PCE subiu 2,7% em relação ao ano anterior. Projeções recentes indicam que ele pode atingir 3,1% até o final de 2025. Se as novas tarifas forem implementadas em agosto, como sugerido por autoridades do governo Trump, essa previsão poderá ser revista para cima.
Diante disso, o mercado já reavalia as expectativas de corte na taxa de juros. Embora muitos investidores ainda apostem em uma redução em setembro, o próprio Fed reforça que só tomará uma decisão com base na trajetória da inflação nos EUA e na consistência dos indicadores econômicos.
Conclusão: inflação nos EUA entra no radar do Fed
O aumento da inflação nos EUA deixa o Federal Reserve em posição delicada. Manter a credibilidade da política monetária exige cautela, especialmente em um cenário de incertezas comerciais e possível aceleração de preços. Os dados divulgados nos próximos meses serão decisivos para definir se o banco central cortará juros ou manterá a atual política restritiva por mais tempo.
O comportamento das empresas, o repasse aos consumidores e a estratégia comercial do governo Trump formarão o tripé que orientará os próximos movimentos da economia norte-americana.
Entenda como as decisões do Fed afetam os mercados emergentes