Tensão com EUA afeta juros e câmbio no Brasil
A guerra comercial EUA Brasil está gerando incertezas e afetando diretamente os principais indicadores econômicos do país. Nesta segunda-feira, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) encerraram o dia em queda, resultado da combinação entre valorização do real frente ao dólar e queda dos rendimentos dos Treasuries. Ainda assim, o mercado mantém postura cautelosa diante do agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos.
Queda nas taxas dos DIs revela cautela
Ao final da sessão, os contratos futuros de juros apresentaram recuos consistentes. O DI para janeiro de 2027 caiu para 14,32%, abaixo do ajuste anterior de 14,379%. Já o DI para janeiro de 2028 recuou sete pontos-base, encerrando em 13,66%. Nos prazos mais longos, o contrato para 2031 caiu para 13,8%, enquanto o de 2033 ficou em 13,89%.
Esses movimentos indicam que, embora a preocupação persista, o mercado está precificando uma possibilidade de estabilidade no cenário de juros. Ainda pela manhã, no entanto, as taxas longas chegaram a subir, impulsionadas pela apreensão com as possíveis tarifas de importação dos EUA sobre produtos brasileiros.
Diplomacia travada e incerteza econômica
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que continuará buscando diálogo com Washington. No entanto, admitiu que o Brasil pode enfrentar tarifas de até 50% a partir de 1º de agosto. Essas medidas, segundo ele, exigirão que o governo avalie instrumentos de apoio para os setores afetados, ainda que sem impacto fiscal direto.
Um fator que amplia a tensão diplomática é a exigência do ex-presidente Donald Trump de que o julgamento de Jair Bolsonaro no STF seja encerrado como condição para negociar. Essa exigência, de natureza política e jurídica, está sendo tratada como parte das tratativas comerciais, o que eleva o grau de incerteza institucional.
Para agravar o cenário, os EUA restringiram vistos de entrada para membros do Judiciário brasileiro e seus familiares, o que aumenta a desconfiança do mercado quanto à evolução das relações diplomáticas. Investidores estão atentos ao risco de novas retaliações que possam impactar diretamente o câmbio e, consequentemente, a inflação e os juros.
Expectativas para a Selic seguem estáveis
Mesmo diante desse cenário adverso, a curva de juros indica que o mercado acredita na manutenção da taxa Selic em 15% na próxima reunião do Copom. Segundo os dados mais recentes da B3, a chance de manutenção é de 92,05%, enquanto a probabilidade de uma nova alta de 0,25 ponto percentual é de apenas 5%.
O boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, corrobora essa expectativa. A projeção de inflação para 2025 caiu de 5,17% para 5,10%, e para 2026 passou de 4,50% para 4,45%. Mesmo ainda acima da meta de 3%, os números indicam arrefecimento das pressões inflacionárias.
Tesouro dos EUA ajuda a conter pressão
Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano também contribuíram para a queda das taxas no Brasil. Às 16h30, o yield do Treasury de dez anos estava em 4,372%, com queda de 6 pontos-base. Esse recuo diminui a atratividade dos ativos americanos e favorece o real, o que contribui para aliviar parte da pressão inflacionária.
Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o principal canal de impacto das medidas de Trump será o câmbio. Caso haja uma forte desvalorização do real, o cenário de inflação poderá se deteriorar rapidamente, o que forçaria o Banco Central a rever sua política de juros. Por enquanto, o câmbio se mantém relativamente estável, o que evita movimentos abruptos da Selic.
Conclusão: cenário ainda nebuloso
A guerra comercial EUA Brasil segue como fator central de risco para a economia. A queda nas taxas dos DIs indica algum alívio pontual, mas a combinação entre incertezas diplomáticas, riscos fiscais e possíveis novas sanções mantém o mercado em alerta. Nas próximas semanas, a atuação do governo e o posicionamento dos EUA serão determinantes para a estabilidade dos juros, da inflação e da moeda brasileira.