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Guardando para o futuro

Trata-se de um dos experimentos psicológicos mais citados em blogs e podcasts, de finanças a autoajuda.

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Provavelmente você conhece o “Experimento do Marshmellow“, nome dado aos estudos de recompensa postergada, realizados pelo psicólogo Walter Mischel, então professor da Universidade de Stanford.

O experimento mensurava a capacidade de autocontrole das crianças testadas ao deixá-las em uma sala sozinhas, encarando um apetitoso marshmellow. 

Caso conseguissem resistir à tentação por quinze minutos, os pequenos eram recompensados, recebendo não só o doce apresentado, como também um extra pelo esforço despendido.

Quer se divertir? Basta digitar “marshmallow test” no Youtube para acompanhar os contorcionismos da garotada para resistir à guloseima.

Uma vez testadas, as crianças foram acompanhadas por anos. Ao final de décadas de monitoramento, os pesquisadores teriam encontrado correlações positivas entre a habilidade de resistir ao marshmellow e o sucesso acadêmico e profissional dos indivíduos avaliados.

A conclusão do estudo embasou o que o nosso senso comum já apontava, ou seja, a capacidade de resistir a prazeres imediatos nos qualifica a colhermos mais e melhores frutos no futuro.

De certa forma, o próprio conceito do valor do dinheiro no tempo é a materialização da recompensa postergada.

Os juros, ou o retorno recebido em troca do nosso investimento, funcionam como uma premiação pela paciência em esperarmos o futuro em vez de aproveitarmos o presente.

Por conta dos juros compostos, a oitava maravilha do mundo segundo Einstein, a recompensa cresce exponencialmente à medida que esperamos mais.

Do ponto de vista estritamente racional, portanto, temos todo o incentivo à frugalidade. Resistir à tentação de comer um doce hoje é o caminho mais seguro para garantir um farto banquete lá na frente.

Todavia, como aprendemos com as finanças comportamentais, nossas decisões financeiras são frutos de complexas interações emocionais, sociais e cognitivas, que embaraçam algo que deveria ser racionalmente simples.

Ansiosos ao extremo, terminamos conspirando contra o nosso próprio futuro, constantemente interferindo em algo que deveria ser deixado só, cuidado apenas pela evolução do tempo.

Assim, consultamos frequentemente nosso aplicativo de investimentos e telas de home broker e nos inundamos por informações ruidosas, absolutamente irrelevantes para nosso futuro financeiro.

Voltando ao experimento do marshmallow, um estudo mais recente colocou em xeque a conclusão de que resistir ao doce seria um bom preditor do sucesso futuro da criança. 

O próprio pesquisador Walter Mischel, responsável pelo estudo inicial, participou do novo levantamento. 

Depois de controlar as amostras por renda do lar e habilidades cognitivas,  percebeu-se que não havia relevância estatística na correlação entre o tempo de espera da criança em frente ao doce e seu sucesso na fase adulta.

A conclusão apontou que fatores precedentes, como educação no lar e estrutura familiar, explicam a paciência dos pequenos. Naturalmente, esses mesmos fatores aumentam a chance de as crianças se tornarem adultos exitosos.

A ansiedade excessiva, causada pela falta de estrutura familiar, aumentava as chances de as crianças buscarem satisfação imediata, prejudicando sua capacidade de aguardar a recompensa postergada.

No longo prazo, o acúmulo de decisões açodadas termina por comprometer as chances de uma vida exitosa.

Quer uma dica para controlar a ansiedade? Observe as táticas das crianças que resistiram ao marshmallow. Invariavelmente distraem-se com alguma outra atividade, tirando o foco do objeto de desejo.

Como já dizia minha saudosa avó, “mente vazia, oficina do diabo”.

O post Guardando para o futuro apareceu primeiro em Empiricus.

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