Introdução
O fim da isenção de minimis para remessas da China e de Hong Kong foi decretado por Donald Trump. A medida impacta gigantes do comércio eletrônico como Shein e Temu e pode gerar forte impacto logístico e econômico. Além disso, o governo busca conter o envio de substâncias ilegais por meio de pacotes pequenos e não rastreados.
O que é a isenção de minimis?
A isenção de minimis permitia a entrada de mercadorias de até US$ 800 nos Estados Unidos sem pagamento de tarifas ou impostos. Essa prática era vantajosa para empresas asiáticas, que conseguiam enviar grandes volumes a baixo custo. Esse modelo favorecia o crescimento de plataformas de comércio eletrônico, mas também dificultava o controle aduaneiro e o combate ao contrabando.
Gigantes como Temu, Shein e PDD utilizavam o benefício para manter preços competitivos e oferecer entregas rápidas. No entanto, autoridades americanas apontaram que esse tipo de remessa vinha sendo usado para enviar substâncias perigosas, como produtos químicos que servem de base para o fentanil, o que elevou o nível de preocupação do governo.
Por que Trump encerrou a isenção?
Decisão baseada em segurança e comércio
O fim da isenção de minimis foi impulsionado por motivos econômicos e de segurança nacional. De acordo com o governo, muitos pacotes que chegavam ao país não eram devidamente inspecionados, facilitando o envio de drogas e produtos ilegais.
Além disso, os fabricantes e varejistas dos EUA enfrentavam uma concorrência desleal. Como as empresas americanas precisam pagar tarifas e seguir regras rígidas, o governo considerou que a regra favorecia injustamente concorrentes estrangeiros, especialmente da China.
Como será a nova cobrança
Tarifa de 145% para remessas da China
Todas as remessas enviadas da China e de Hong Kong agora estão sujeitas a uma tarifa de 145%, além de qualquer taxa existente. Essa mudança inclui encomendas que antes estavam isentas por estarem abaixo de US$ 800.
Agora, pacotes postais enviados pelos Correios enfrentam um novo modelo. De acordo com as novas regras, remessas de até US$ 800 devem pagar 120% de imposto ou, alternativamente, uma taxa fixa de US$ 100 — valor que, inclusive, aumentará para US$ 200 a partir de junho. Além disso, transportadoras expressas como FedEx, UPS e DHL serão as responsáveis pela triagem e, consequentemente, pelo cumprimento da nova política tarifária.
Impactos logísticos e econômicos
Caos nos aeroportos e portos
Especialistas alertam que a aplicação do fim da isenção de minimis pode sobrecarregar os sistemas de triagem nos aeroportos. A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA se declarou pronta, mas o histórico mostra que remessas pequenas são difíceis de rastrear e inspecionar com rapidez. Se o governo decidir aplicar rigorosamente os valores declarados, será necessário fiscalizar milhares de pacotes diariamente.
Redução do tráfego de carga aérea
Como consequência direta das novas restrições, o volume de carga vinda da Ásia pode cair até 75% neste ano. De acordo com o Trade and Transport Group, o crescimento do tráfego de cargas — que alcançou 12,3% em 2024 — pode, portanto, despencar para menos de 1%. Além disso, companhias aéreas já relatam uma queda significativa no número de voos cargueiros, bem como o aumento de cancelamentos previstos para os próximos dias.
Consequências para e-commerces e consumidores
Os consumidores americanos podem sofrer com preços mais altos e prazos de entrega prolongados. Muitos já estavam acostumados com entregas baratas e rápidas vindas da China, o que agora se tornará mais difícil.
Diante do novo cenário, empresas chinesas como Shein e Temu, que dependem fortemente de margens reduzidas e alta rotatividade de produtos, precisarão reavaliar suas estratégias de operação. Como resultado, isso pode incluir desde a realocação da produção para países com acordos comerciais mais favoráveis até, eventualmente, a instalação de centros de distribuição em território norte-americano, a fim de minimizar custos e manter a competitividade.
Considerações finais
O fim da isenção de minimis representa uma reestruturação nas relações comerciais entre os EUA e a China. Embora a medida vise fortalecer a fiscalização e proteger a indústria americana, ela também traz desafios logísticos complexos e um impacto direto no bolso dos consumidores.
Nesse contexto, a eficácia da medida dependerá não apenas do preparo da alfândega, mas também da capacidade das transportadoras em se adaptarem rapidamente às novas exigências. Por esse motivo, o cenário atual indica que o comércio internacional, muito provavelmente, deverá passar por uma fase marcada por ajustes constantes e incertezas significativas nos próximos meses.