“Quanto menor, melhor
Quanto mais ilíquida, melhor
Quanto menos possuída por investidores institucionais, melhor
Quanto mais mal entendida, melhor
Quanto menos difundida, melhor
Você ganha dinheiro por navegar entre o medo dos outros investidores.”
Ian Cassel
Fundador do MicroCapClub e CIO da Intelligent Fanatics Capital Management
Quando me deparei com essa colocação de Cassel sobre as Small Caps, um estalo veio à cabeça. Em seu âmago, qualquer investimento em ações tem como base o confronto de expectativas entre os seus compradores e vendedores. Os motivos pelos quais cada um deles entra na transação são praticamente indecifráveis, por estarem intrinsecamente conectados a um processo decisório teoricamente racional, que se mistura a um emaranhado de emoções. Especialmente quando os sentimentos dos investidores estão no auge do pessimismo, a parte da razão costuma deixar o tabuleiro.
Nesse sentido, é razoável concluir que as Small Caps sofram mais em ambientes de elevada aversão ao risco. Desconhecidas do público investidor, tanto sobre a ótica operacional quanto sobre a ótica estratégica, o medo acaba por impulsionar a venda das ações. Para os investidores disciplinados, é exatamente a partir daí que o grande potencial de multiplicação de capital surge.
Comprar Small Caps (ou MicroCaps) não é uma tarefa simples. Listar as ações de menor valor de mercado e simplesmente comprá-las não funciona. Para se ter sucesso neste tipo de investimento, é preciso atenção, esmero na construção das teses e paciência, muita paciência.
Nos últimos anos, a bolsa brasileira passou por uma mudança estrutural importante. A profusão de novos investidores incapazes em pensar no longo prazo foi grande. A difusão de recomendações infundadas, feitas pelos influenciadores digitais trataram as small e micro caps como investimentos certeiros e seguros.
Sem capacidade analítica, em um primeiro momento, esses especuladores levaram os preços das ações às alturas para que, em seguida, eles despencassem, abatidos pela falta de liquidez no sistema financeiro.
É neste momento que nos encontramos, no qual a realidade de parte das companhias é bastante dissonante dos seus preços de tela. É a hora certa para se buscar as pequenas empresas que tenham capacidade de multiplicar seu valor de mercado e se tornar mid caps.
Atualmente na B3, existem 207 companhias listadas cujo valor de mercado não ultrapassam os R$ 5 bilhões e que podem ser consideradas small ou micro caps. Do começo de 2021 para cá, a destruição de valor foi enorme. Somadas, a capitalização de mercado dessas companhias girava ao redor dos R$ 590 bilhões. Hoje não alcançam os R$ 280 bilhões.

Ao explorar as estatísticas desse grupo nos deparamos com desvalorizações impressionantes, como das Casas Bahia (antiga Via Varejo), por exemplo, cuja queda do valor de mercado alcançou os impressionantes 97%; ou ainda, a plataforma de seguros Qualicorp, que chegou a valer quase R$ 10 bilhões e atualmente vale um décimo disso.

Exemplos como estes temos aos montes, mas é preciso ter em mente que foram destes movimentos que surgiram boas oportunidades. O caso Vivara é um exemplo disso: nos últimos doze meses, as ações avançaram 53% e o seu valor de mercado agora está beirando os R$ 8 bilhões. O mesmo vale para a Allpark, cuja valorização alcançou impressionantes 200% nos últimos doze meses. A GPS avançou 62% em um ano e voltou a ser negociada próxima às suas máximas históricas.

Neste momento, ao olharmos para o conjunto de ativos formados pelas companhias de baixa capitalização, enxergamos diversos casos com potencial de multiplicação de capital. A dinâmica macroeconômica vigente, já abordada em nosso Outlook 2024, deve proporcionar um vento de cauda bastante interessante para as companhias ligadas ao ambiente doméstico. De forma geral, assim como em 2023, a descompressão do custo de oportunidade, associada à capacidade de geração de caixa, devem proporcionar maior geração de valor para os acionistas e levar os preços das ações para cima.
Entretanto, eu reforço: encontrar as companhias que entregarão retornos consistentes acima da média nesse ambiente, como sempre, não será uma tarefa fácil. Afinal de contas, as armadilhas de valor continuam soltas por aí…
O Empiricus MicroCap Alert FIA e o relatório MicroCap Alert da Empiricus Research
O fundo Empiricus MicroCap Alert FIA (MicroCap) nasceu às vésperas do início da pandemia (em 11/02/2020). De lá para cá, o mercado foi bastante duro para o mundo das microcaps. Nos últimos 36 meses, conforme pontuado no gráfico 1, a queda do valor de mercado das 207 companhias que hoje valem menos de R$ 5 bilhões, foi de 53%. Nesse mesmo período (36 meses), o MicroCap cai 24%, enquanto o índice de Small Caps perde 20%.
No entanto, em 2023, uma parte das small caps apresentou desempenho bem superior aos seus benchmarks. O MicroCap capturou esse movimento e avançou 50,55%. Recontar sua história após esse excelente ano se faz por merecer.
A seleção das ações e a montagem da sua carteira se inspira no clássico relatório MicroCap Alert, agora escrito pelo time encabeçado por Rodolfo Amstalden (co-fundador da Empiricus), e complementado por Richard Camargo e Ruy Hungria — carinhosamente chamados de “3R” pelos seus leitores. O trio guarda uma sinergia bastante poderosa, baseada na experiência do Rodolfo, aliada à capacidade de identificação de bons negócios do Richard e ao poder analítico do Ruy. E, ao meu ver, conduzem habilmente todos os processos de construção e acompanhamento das teses de investimento. A dinâmica implementada pelo grupo favorece substancialmente o trabalho de gestão, por criar um ambiente de muita paciência e retirar pressões por eventuais mudanças abruptas.
Volto aqui ao racional de Ian Cassel, muito relevante na condução das carteiras ligadas ao mundo das Microcaps. Ao longo da vida de um portfólio focado em pequenas empresas, a mediocridade é o preço que se paga enquanto as oportunidades de multiplicação de capital não são claras. A paciência é a chave. Em outras palavras: os investidores não deveriam esperar constantemente resultados superiores aos benchmarks no comparativo diário, já que o sucesso dessa estratégia acontece quando os casos realmente transformadores são identificados e desabrocham frente ao mercado. É aí que o poder de multiplicação de capital fica evidente.
E o trio possui esse “mindset” claro na condução do relatório. Os retornos do MicroCap desde quando eles assumiram o posto do relatório do MicroCap Alert (em 9 de junho de 2022) mostram exatamente essa dinâmica. Veja no gráfico 4: (1) nos doze meses seguintes à assunção do relatório, o desempenho do fundo ficou um pouco acima do índice de Small Caps da B3 (seu benchmark); (2) em 11 de maio de 2023, a equipe terminou seus estudos sobre uma tese de investimento e a recomendou de forma efusiva, por enxergar um potencial fora da curva para o papel. Em seguida, as ações foram inseridas no portfólio do MicroCap . De lá para cá, o fundo avançou 40% e suplantou o índice de Small Caps em quase 30 pontos percentuais. Ao longo dos últimos meses, essa diferença tem sido respeitada, enquanto o time procura
novas teses de investimento.

A inteligência na condução da carteira e a forma de olhar para sua estratégia são os vetores que diferenciam o MicroCap frente aos demais fundos da classe. Especialmente após a vinda do trio para a condução do relatório que inspira sua carteira, as chances de proporcionarmos retornos acima da média ao longo dos próximos anos parecem bem mais elevadas.
Nas páginas a seguir, exploramos brevemente a alocação atual do MicroCap Alert, sob a ótica das teses de investimento dos ativos que o compõem. Por uma questão estratégica, não abriremos as participações exatas de cada ativo dentro da carteira. O conteúdo aqui exposto é baseado nas teses construídas pelo time do Rodolfo. Vamos lá!
Forte abraço,
João Piccioni
As teses de investimento do Empiricus MicroCap Alert FIA
Vivara: uma jóia rara
Fundada em 1962, a Vivara (VIVA3) é a maior joalheria da América Latina, com cerca de 17% de market share na região. Sua operação se concentra nas 336 lojas próprias das marcas Vivara e Life. Sua receita estimada para 2024 é de R$ 2,5 bilhões, com margem bruta consistentemente em torno de 68% e retorno sobre o patrimônio líquido acima de 22%. A empresa é controlada pela família Kaufman, que detém mais da metade das ações.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- Liderança em um mercado ainda fragmentado e alta resiliência. Em 2020, mesmo com todas as suas lojas fechadas durante mais de 4 meses, a Vivara apresentou uma queda de receitas de apenas 10%, mostrando-se a empresa mais resiliente entre todas as varejistas listadas na B3. No ano mais difícil da sua história, sua margem bruta caiu apenas 2 pontos percentuais. Além de resiliente, a Vivara é líder num segmento muito fragmentado. Enquanto ela detém 17% de market share, seu concorrente mais próximo detém apenas 2% do mercado, o que a coloca numa posição muito diferenciada em termos de poder de marca.
- Avenidas de crescimento com excelente perfil de rentabilidade. Desde 2018, a Life passou de uma coleção vendida dentro das lojas da Vivara para se tornar a segunda maior joalheria do país. Com mais de 100 lojas abertas e um longo caminho de crescimento pela frente, a Life apresenta números impressionantes: pelas estimativas da companhia, cada unidade madura da Life tem potencial de receitas de R$ 5 milhões anuais, com margem Ebitda de 43% e ROIC acima de 37%. Entre 2022 e 2026 a companhia deve abrir cerca de 200 lojas, a maioria delas da Life.
- Valuation convidativo: a ação de Vivara (VIVA3) negocia a 16,5x seus lucros estimados para 2024, o que representa uma contração de múltiplos importante desde o seu IPO e um ponto de entrada bastante atrativo em nossa opinião. Estimamos um valor justo ao redor de R$ 40 para VIVA3, o que representa um upside de cerca de 17% sobre os preços atuais.
Desktop: uma small cap de fibra
A Desktop (DESK3) é a sexta maior empresa de fibra óptica do Brasil, com mais de 1 milhão de clientes ao final de 2023. Num setor altamente fragmentado, a Desktop se posicionou como um dos potenciais consolidadores, unindo boa gestão, acesso à capital e excelente histórico de execução operacional. Com sua base concentrada no Estado de São Paulo, ela é também uma das mais resilientes entre as empresas de fibra óptica listadas em Bolsa.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos
- Um consolidador natural. A baixa barreira de entrada e natureza regional do negócio de fibra deram origem a um mercado excessivamente fragmentado. De acordo com dados da Anatel, existem praticamente 7 mil ISPs (pequenos provedores regionais de fibra) espalhados pelo Brasil; destes, cerca de 97% possuem menos de 10 mil clientes. Mercados como esse são pratos cheios para empresas com acesso à capital realizarem processos de consolidação via M&As. Desde 2018 a Desktop praticamente quintuplicou seu tamanho, sendo a maior parte desse crescimento inorgânico. Ainda vemos um amplo espaço para que a empresa siga executando este mesmo plano.
- Beneficiária direta do corte de juros. Atualmente, o endividamento de Desktop ronda o patamar de 1,7x o Ebitda dos últimos 12 meses. Com o ciclo de queda de juros apenas começando, a Desktop tende a se beneficiar nos próximos meses com um alívio financeiro em seu balanço, que deverá ser provavelmente revertido em novas aquisições e uma reaceleração do seu crescimento.
- Opcionalidades na mesa. Em agosto de 2023, foi veiculada na mídia uma notícia sobre a potencial venda da infraestrutura da Desktop. Um dos principais argumentos em favor dessa operação seria o valuation da companhia: enquanto DESK3 negocia a cerca de 5x ebitda, empresas puramente comerciais (que terceirizam sua infraestrutura) costumam negociar a pelo menos 10x ebitda em outros mercados.
Viveo: um ano de eficiência
Fundada em 1996, a Viveo (VVEO3) é a maior distribuidora de medicamentos e materiais hospitalares do Brasil, com cerca de 18% de market share e vendas totais estimadas na ordem de R$ 12,5 bilhões em 2024. Com tamanha escala, a Viveo é capaz de oferecer o melhor nível de serviços e os melhores preços num nicho altamente competitivo.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- O último mercado a ser consolidado no segmento de saúde. Estimamos que as cinco maiores redes de hospitais do Brasil representam 18% de market share, as cinco maiores seguradoras de saúde são 37% do mercado e os quatro maiores laboratórios têm 25% de participação no segmento de diagnósticos. O nicho de distribuição, por custar muito pouco aos hospitais e ser vital para a sua operação, deveria ser ainda mais consolidado em nossa opinião. Desde o IPO o market share da Viveo cresceu 8 pontos percentuais, num mix de números orgânicos acima do mercado e M&As. Vemos espaço para essa participação crescer ainda mais nos próximos anos.
- Margens em expansão. O business de distribuição é um negócio de margens apertadas. Distribuidores em outros segmentos, como o varejo, costumam ter margem Ebitda entre 2% e 3%, e metade disso em margem líquida. As margens da Viveo costumam ser o dobro dessas, devido à natureza dos produtos (muitos requerem armazenagem especial e outros cuidados). Nos últimos anos, a companhia tem investido em uma série de serviços com margens que são, em nossas estimativas, até 3x superiores às vistas no core business. Esses negócios representavam menos de 1% das receitas em 2018 e já representam cerca de 10% do top line atualmente.
- Desafios de curto prazo abriram uma boa oportunidade. Desde o follow on, realizado em agosto de 2023, as ações da companhia acumularam uma queda de cerca de 36%, num mix de overhang (com vendas da família de fundos Genoma, que é o maior acionista da Viveo) e uma perda tributária envolvendo a discussão sobre o Difal, que deve acarretar um custo extra de R$ 450 milhões para a companhia entre 2024 e 2025. Em nossa opinião, esses fatores estão bem precificados pelo valuation descontado da companhia.
- Viveo é uma ação muito barata para ser ignorada. Trabalhando com números abaixo do consenso de mercado, como taxas de crescimento orgânicas em linha com o histórico e alocando uma média de R$ 400 milhões anuais em aquisições e sem assumir grandes ganhos de eficiência, acreditamos que o valor justo para as ações atualmente é em torno de R$ 22, um upside de +58% em relação aos preços de tela.
Track & Field: boas empresas nunca saem de moda
A Track & Field (TFCO4) é uma das maiores marcas esportivas no Brasil, tendo fugido à competição de grandes marcas internacionais, firmando-se em nichos associados à alta renda como provas de longa distância e beach tennis. Além disso, a empresa é conhecida por um dos programas de franquias mais seletivos e lucrativos do país. Em 2024, a companhia deve faturar R$ 800 milhões, um crescimento de 20% versus 2023, mantendo margens saudáveis e uma alocação de capital disciplinada.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- Gestão conservadora e focada em resultados. Com exceção de um breve período durante a pandemia, a Track & Field realizou todo seu crescimento sem utilizar capital de terceiros. Para realizar um feito como esse, a companhia precisou ser criativa e focar em resultados: antes de qualquer um, a TFCO transformou em receitas um dos seus maiores centros de custos, ao criar o Run Series, um circuito de corridas onde a companhia gera receitas de inscrições e patrocinadores, ao mesmo tempo em que divulga sua marca. São iniciativas como essa que explicam as altas margens (cerca de 60% de margem bruta e 17% de margem líquida) e a consistente geração de caixa, num segmento altamente competitivo.
- Um dos programas de franquias mais rentáveis do país. Atualmente, a Track & Field possui 343 lojas espalhadas pelo Brasil, sendo 86% delas no formato de franquias. Diferente da maioria do varejo, onde as empresas são comissionadas no sell-in, a Track & Field vende aos franqueados a preço de custo e a empresa recebe um fee de 16,5% no sell-out. Essa estrutura garante maior alinhamento entre as partes e evita conflitos de interesse entre os canais, algo extremamente comum no segmento. Além disso, a Track & Field é conhecida por ser altamente criteriosa na seleção dos seus franqueados.
- Espaço considerável para crescimento. Atualmente, cerca de ⅔ das lojas da companhia estão concentradas na região sudeste, sendo 40% do total no Estado de São Paulo. Além de um espaço considerável para seguir abrindo lojas país afora, a companhia passou o ano de 2023 focada em atualizar o layout de suas principais unidades, com um programa de retrofit que tem aumentado, em média, mais de 30% o sell-out.
- Uma aposta no que funciona. Negociada a 17x lucros estimados para os próximos 12 meses, Track & Field não é uma barganha, mas vemos espaço para surpresas positivas, especialmente relacionadas a uma possível aceleração no ritmo de abertura de lojas e a melhora na rentabilidade, graças ao novo formato de lojas.
Estapar: depois de dois anos estacionada, é a hora de voltar a andar
A Estapar é a maior operadora de estacionamentos do Brasil. Ainda assim, possui apenas 8% de market share, o que mostra um setor muito fragmentado que com bom potencial de consolidação.
Depois de um período muito difícil, reflexo do aumento do endividamento por conta da aquisição da concessão da Zona Azul de São Paulo e redução do fluxo de veículos nos estacionamentos por conta da pandemia, os números voltaram a melhorar bastante nos últimos trimestres, e a companhia caminha para voltar a ser lucrativa já em 2024.
Em nossas estimativas, a companhia negocia por cerca de 6x Valor da Firma/Ebitda esperado para 2024, um patamar bastante atrativo e com boa perspectiva de crescimento de resultados pela frente.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- Melhora do resultado operacional. Desde 2021, a companhia voltou a focar seu crescimento em garagens alugadas, que exigem menos investimentos. Ao mesmo tempo, nos últimos anos temos visto uma normalização no fluxo dos estacionamentos após a pandemia, o que combinado com uma maior eficiência operacional está contribuindo para uma melhora de margens. Aliás, a companhia tem apresentado resultados operacionais recordes nos últimos trimestres, e essa tendência deve continuar.
- Queda da Selic vai ajudar o resultado financeiro. Apesar dos resultados operacionais recordes, a Estapar ainda apresenta prejuízo na última linha do demonstrativo, por conta das elevadas despesas com juros, em função da Selic ainda em patamares elevados. A combinação da melhora do Ebitda e da queda da Selic devem contribuir para que a Estapar volte a ter lucro já em 2024, o que tornaria a companhia muito mais atrativa para o mercado, e poderia inclusive culminar em um processo de reprecificação (re-rating) dos papéis.
- Modelo de negócios gerador de caixa e com amplo espaço para crescimento. Apesar dos resultados ruins a partir de 2020 por conta da pandemia, o modelo de negócios de estacionamentos tende a gerar bastante caixa, já que as garagens geralmente necessitam de baixos investimentos iniciais. Outro ponto interessante é que há muito espaço para crescimento ainda, dado que o mercado é muito fragmentado ainda.
Grupo Panvel: jogando muito bem dentro de casa
A Panvel é uma das maiores redes de farmácias do país, com mais de 500 lojas distribuídas principalmente na Região Sul. Aliás, essa região seguirá sendo o foco de expansão da companhia, já que ela possui bastante conhecimento e tem conseguido defender bem o seu market share contra os avanços da poderosa RD. Além da rede de farmácias, a companhia também tem duas linhas de negócios menores, distribuição e desenvolvimentos de medicamentos, ambos com o propósito de dar suporte à rede de lojas.
Com o follow-on realizado em 2020, a companhia entrou em uma nova fase importante de investimentos em tecnologia, logística e abertura de lojas, que em nossa visão devem contribuir para uma melhora de resultados nos próximos anos.
Dentro de um setor relativamente defensivo, com múltiplos bastante atrativos (7x Valor da Firma/Ebitda esperados para 2024) e boa capacidade de crescimento, a Panvel é um ótimo nome dentro do universo das microcaps.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- Abertura de lojas e foco na Região Sul. Um dos grandes receios de quem investe em rede de farmácias no Brasil é a expansão da RD (antiga Raia-Drogasil), que vem ganhando participação de mercado em praticamente todas as regiões do país. A exceção é justamente no Sul, muito em função da presença da Panvel ali. Isso mostra ótima capacidade de execução da Panvel, e também deixa claro que ela vem sendo bem-sucedida em seu processo de abertura de lojas. Desde o início de 2020 ela abriu mais de 130 lojas (+30% de aumento), com ótimo ganho de produtividade desde então, o que mostra que ótima assertividade capacidade de execução.
- Ciclo pesado de investimentos ficou para trás. Além da abertura de lojas, a Panvel investiu pesado em sua capacidade logística nos últimos três anos, incluindo a ampliação de dois centros de distribuição para suportar o seu crescimento por alguns anos. A partir de agora, os investimentos devem diminuir e abrir espaço para uma maior geração de caixa, que poderá ser utilizada para remuneração do acionista (dividendos), redução do endividamento e/ou investir na abertura de mais lojas.
- Combinação de setor defensivo, com capacidade de crescimento e múltiplos baixos. A venda de medicamentos e produtos farmacêuticos tende a ser um negócio defensivo, menos afetado por ciclos econômicos. Atualmente a Panvel negocia por cerca de 7x Valor da Firma/Ebitda esperados para os próximos 12 meses, contra uma média de mais de 10x, enquanto a RD negocia por mais de 15x, um desconto exagerado em nossa visão e que não contempla a capacidade de crescimento de resultados.
Irani: embalando o sucesso
A Irani surgiu na década de 1940 e, desde o início, seu foco esteve na produção de papel. A principal linha de receita da companhia, o Papel Ondulado, foi um investimento certeiro que tinha o objetivo de acompanhar a transição gradual do uso de materiais pouco degradáveis (plástico e metal, por exemplo) para a utilização do papel. Hoje a companhia é um dos principais players produtores de papel para embalagens e embalagem de papelão ondulado.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos
- Histórico longo de operação. Num país como o Brasil, repleto de crises e condições desfavoráveis, isso normalmente significa resiliência, disciplina e rapidez na hora de identificar erros e propor soluções eficazes. Esse é um ponto que diferencia as empresas sobreviventes e vencedoras no longo prazo.
- Setor resiliente e com tendência de crescimento. Nos últimos dez anos, o volume de papelão ondulado expedido no Brasil tem crescido a uma taxa muito superior ao PIB, ajudado por diversos fatores que não devem arrefecer tão cedo. A maior penetração do delivery e o aumento relevante das vendas do e-commerce são ventos muito favoráveis para a produção de embalagens no país e no mundo. Além disso, estamos vivendo uma tendência secular de substituição de produtos e embalagens plásticas por correspondentes de papel.
- Produção verticalizada e resultados não afetados pelas voláteis cotações de celulose. O grande diferencial no modelo de negócio é que seus custos não dependem dos preços da celulose, já que a própria Irani consegue toda a matéria-prima para a produção de papel em florestas próprias ou arrendadas. Em termos de preço de venda, a cotação das embalagens tem se mostrado muito resiliente ao longo das últimas décadas, com um histórico de valorização acima da inflação e sem grande volatilidade.
- Plataforma Gaia será a nova fronteira de crescimento. Depois de alguns anos investindo em vários projetos de expansão e melhorias (Gaia), 2024 será o ano em que a companhia começará a colher os frutos desses investimentos, que devem permitir aumento na produtividade e redução de custos.
Lojas Quero-Quero: grande nas cidades pequenas
Fundada em 1967 no interior do Rio Grande do Sul, a Lojas Quero-Quero é uma varejista de materiais de construção, com foco nas pequenas cidades. Hoje, conta com mais de 540 unidades, grande parte delas na Região Sul do país, seu foco de atuação. A companhia também possui um braço financeiro importante, através da VerdeCard, responsável por oferecer crédito aos clientes, e que tem se mostrado crucial no modelo de negócios da companhia. Além de promover a loja perante os concorrentes, o cartão também ajuda a alavancar as vendas mesmo em momentos de demanda reprimida.
Com a alta da inflação e da taxa Selic, a demanda por materiais de construção simplesmente desabou, o que impactou bastante os resultados da companhia. No entanto, com a perspectiva de corte de juros pela frente, arrefecimento da inflação e um ambiente de crédito menos restritivo, a Quero-Quero tende a ser uma das grandes beneficiadas.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- Atuação em cidades menores. Fazer logística no interior do Brasil não é nada trivial, mas isso permite fugir da competição dos grandes players, ao mesmo tempo que oferece preços e soluções melhores do que os pequenos varejistas locais, que não têm a mesma escala, eficiência logística e capitalização.
- Vencedor no longo prazo. Em momentos macroeconômicos difíceis, a concorrência local fica bastante fragilizada e acaba cedendo ainda mais participação de mercado para a Quero-Quero, que possui maior poder de barganha e financeiro.
- Crescimento financiado pelo próprio caixa. A boa geração de caixa operacional permite à companhia crescer sendo financiada em grande parte pela própria geração de caixa, sem precisar de muita dívida. Essa é uma grande vantagem, principalmente em crises macro, uma vez que cada unidade se paga rapidamente: mesmo na recessão de 2015 e 2016, as lojas abertas tiveram um retorno de 100% do investimento (payback) em menos de 30 meses.
- Gestão conservadora. Ao longo dos anos, os executivos têm se demonstrado conservadores, mantendo os pés no chão com um plano de crescimento de acordo com a necessidade e ambiente macro. Além disso, mesmo em momentos adversos, os níveis de atraso da financeira continuaram controlados e, nos resultados, mostram a eficiência do controle dos empréstimos.
- Perspectiva de queda da Selic. Construção e reforma são segmentos que dependem bastante de crédito. Nos últimos anos, com a Selic bem acima de 10% e boa parte dos brasileiros endividados, a demanda por produtos de construção desabou, o que impactou as vendas nas lojas. Além disso, a alta da Selic encareceu o custo de captação, o que também reduziu as margens em seu braço financeiro. Se por um lado isso atrapalhou bastante os resultados dos últimos dois anos, a perspectiva de queda da Selic daqui para frente deve ser um vento bastante favorável para esses dois segmentos.
BR Partners: pequeno notável
O BR Partners está posicionado como um banco de investimento independente desde o seu nascimento. Ele começou com um capital de R$ 100 milhões, proveniente de dez famílias de alta renda, que acreditavam na tese e também no trabalho do fundador, o executivo Ricardo Lacerda, que tem passagem por grandes instituições bancárias.
Como a necessidade de capital é menor na área de Investment Banking (IB), esse foi o foco inicial da companhia e era responsável por mais da metade da receita até pouco antes do IPO. Essa área presta serviços relacionados aos processos de fusões e aquisições (M&A), IPOs, aconselhamento pré-IPOs, privatizações, reestruturações, além de consultorias em geral. Além desse serviço, a companhia atua com estruturação, distribuição de títulos de renda fixa e instrumentos de dívida; gestão de riscos; investimentos em empresas fechadas de pequeno e médio porte; wealth management.
Nossa tese de investimentos se baseia nos seguintes pontos:
- Aproveita os bons momentos para a renda variável. Como um banco de investimento e com grande participação em ofertas de M&A e IPO, a companhia surfa muito bem esses momentos de bonança. Com uma perspectiva de queda para os juros globais, esse deve ser um vento muito favorável para a companhia no curto e médio prazos.
- Capacidade de adaptação e identificação de oportunidades. Ao longo dos anos, a necessidade fez com que a companhia inserisse linhas de negócio complementares, que não só incrementaram a receita como amorteceram as quedas de outros segmentos. Isso explica os ótimos resultados nos últimos anos, mesmo em um ambiente extremamente difícil para quem vive do mercado financeiro.
- Consegue identificar sinergias e necessidades do cliente. O banco tem um ótimo histórico de identificar oportunidades de negócios que têm demanda dos seus próprios clientes. A última área criada com esse propósito, Wealth Management, mantém “dentro de casa” as grandes fortunas geradas aos clientes nos processos de M&As, IPOs, etc. Se antes esses recursos eram enviados para outras instituições gerirem, agora a companhia consegue manter esses recursos e rentabilizá-los. Isso já tinha acontecido antes (a área de Tesouraria é um outro exemplo) e mostra ótima capacidade de agregar novas linhas de receita.
Disclaimer
Os fundos de investimento não contam com garantia do administrador do fundo, do gestor da carteira, de qualquer mecanismo de seguro ou, ainda, do fundo garantidor de créditos – FGC. A rentabilidade obtida no passado não representa garantia de rentabilidade futura. É recomendada a leitura cuidadosa do prospecto e regulamento do fundo de investimento pelo investidor ao aplicar seus recursos. Para avaliação da performance do fundo de investimento é recomendável uma análise de, no mínimo, 12 (doze) meses. Este fundo utiliza estratégias com derivativos como parte integrante de sua política de investimento. Tais estratégias, da forma como são adotadas, podem resultar em significativas perdas patrimoniais para seus cotistas. Os fundos multimercados com renda variável podem estar expostos a significativa concentração em ativos de poucos emissores, com os riscos daí decorrentes.
O post Empiricus MicroCap Alert FIA: transferindo riqueza dosimpacientes para os pacientes apareceu primeiro em Empiricus.