“Voltamos a ter âncora monetária no Brasil“. Em tom de alívio, essas são palavras de Felipe Miranda, sócio-fundador e CIO da Empiricus Research, em live no Instagram, ao comentar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,50% na reunião de ontem (19).
Para o analista-chefe da casa, depois de ter se comunicado mal no Copom anterior, o colegiado teve a conduta necessária no encontro de junho: “Não acho que estamos imaculados em relação ao Copom anterior, mas estamos recuperando a credibilidade, pelo menos momentaneamente. O colegiado se mostrou uníssono, técnico e responsável [na tomada de decisão]”.
No comunicado, o Copom identifica um cenário externo ainda difícil, mas sem grandes novidades, e uma deterioração adicional das expectativas da inflação, assim como vê o mercado de trabalho ainda muito apertado e indicadores de atividades mais fortes.
“A boa notícia é que o BC chamou de ‘interrupção’ no ciclo de cortes, o que soa como uma pausa, um respiro, para em algum momento voltar a cortar”, explica Miranda.
Na visão dele, o posicionamento do Copom foi um importante sinal rumo a um alívio no câmbio e no juro de curto prazo. “Consequentemente, devemos ter uma reancoragem de expectativas da inflação”, acredita.
‘Copom conseguiu se institucionalizar’
Além disso, o analista diz ter ficado muito clara a ideia de continuidade independentemente de quem ocupa a cadeira do Copom hoje ou no futuro: “Acho que o Copom conseguiu se institucionalizar”.
Ele afirma isso, principalmente, levando em conta a situação constrangedora das quatro nomeações do presidente Lula para compor o colegiado em relação a Campos Neto, após as últimas entrevistas de Lula atacando o presidente do Banco Central.
“As pessoas que foram colocadas por Lula [no Copom] estavam em posição muito delicada do ponto de vista pessoal e se saíram muito bem mesmo assim. Os quatro mostraram uma postura muito adequada, salvaram seus currículos e comprovaram seu caráter – pelo menos por enquanto”.
Nesse cenário dos últimos dias, em que decisões monetárias têm se misturado a questões políticas, o analista acredita haver muito mais ruído do que sinal no discurso de políticos: “O investidor precisa diferenciar o que é bravata eleitoreira e o que é real, e é pra isso que nós [analistas] estamos aqui”.
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Do que dependemos pra ter um rali mais consistente?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares, após semanas consecutivas de Ibovespa em queda em 2024.
Para Miranda, o Brasil precisa principalmente se empenhar em uma revisão dos gastos públicos. “Não falo de uma grande revolução, mas há espaço para pequenos ajustes. Senão, vamos inviabilizar o país, já que a sociedade não aguenta mais o aumento da arrecadação”, sugere.
Como exemplo, ele cita a mudança da vinculação e indexação do seguro-desemprego, BBPC e abono-salarial: “Há espaço para reforma administrativa, mesmo que chamem de outro nome, como um discurso de ‘combater privilégios do judiciário’, combater salários milionários dos marajás, etc”.
Dessa forma, o analista acredita que seja possível rolar o problema fiscal por mais um ano e meio e, antes mesmo das eleições de 2026, se houver um candidato reformista pró-mercado na frente, isso já será precificado pelo mercado.
“No fim das contas o Brasil não precisar gerar muita coisa boa, é só parar de fazer bobagem e escorregar na reta que a inflação se mantém controlada, os juros caem aos poucos, como já está acontecendo em países da Europa e possivelmente em breve nos EUA, e os ativos devem voltar a subir”.
Por fim, Miranda encerra a live com três recomendações de ações de qualidade e robustez para investir agora: Itaú (ITUB4), Cosan (CSAN3) e BR Partners (BRBI11).
Além desses papéis, a equipe de analistas da Empiricus Research também gosta destas outras ações, caracterizadas por terem boa execução em momentos macroeconômicos mais difíceis.
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