À medida que as eleições americanas se aproximam, o mercado tem deixado suas marcas por meio da volatilidade tanto das bolsas quanto do dólar.
Para se ter uma ideia, a semana passada (de 14 a 18 de outubro) foi a melhor para o S&P 500, principal índice de ações dos EUA, que subiu 5,6%, alcançando 5.800 pontos. Enquanto isso, na semana anterior (de 7 a 11 de outubro), o mesmo índice teve sua pior semana em quase dois anos e derreteu 2,32%, fechando a 5.427,12 pontos.
O dólar começou o mês abaixo dos R$ 5,50 e poucos dias depois passou a se manter em torno de R$ 5,70.
Por que o dólar está tão alto e o S&P 500 disparou?
João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, atribui a disparada da divisa americana nas últimas semanas à sazonalidade do período pré-eleições americanas: “É natural e tradicional que o dólar tenha esse comportamento mais nervoso nessa época, mas isso tende a se dissipar conforme sair a decisão”, afirma no programa Giro do Mercado, do MoneyTimes, portal do Grupo Empiricus.
Em sua visão, há chances de o câmbio aliviar um pouco em novembro e dezembro, mas nada muito intenso.
“Não acho que faz sentido econômico [o dólar] voltar para o patamar dos R$ 5. Até porque o segmento agro foi muito abaulado nesse final de ano, sofreu muito. Se você olha pra China, não tem demanda por commodities. E se você olha pros EUA, apesar de parecer que a demanda está quente, existe uma demanda menor por commodities, é só ver no preço do petróleo – que já veio pra baixo dos US$ 70 mil de novo”.
Já em relação à alta das bolsas americanas na semana passada, o analista lembra que o mercado passou a ficar mais otimista nos últimos dias com o aumento das chances de Donald Trump voltar a ser presidente dos EUA.
“O mercado ficou bastante entusiasmado com uma possível vitória dos republicanos. De setembro pra outubro, a gente percebe os números mais otimistas com o Trump, e, nesse sentido, os investidores começando a realocar seus investimentos para ativos que podem ser beneficiados caso ele vença, como o setor financeiro e algumas small caps”.
Mas, segundo ele, os fortes balanços corporativos divulgados recentemente pelas companhias americanas também podem ter atraído os investidores para as ações.
Resultados do 3T24 de bancos, Netflix e Intuitive Surgical ‘brilharam os olhos’
Dos resultados divulgados na semana passada, Piccioni destaca especialmente Netflix (NFLX34), que inclusive viu suas ações dispararem.
“Estamos bem positivos com o case porque eles encontraram uma nova forma de monetizar o serviço de streaming com advertising; estão conseguindo aumentar a base de assinantes pode ser um grande player de ads, além da empresa pretender criar pequenos vídeos com Inteligência Artificial“, conta.
Outro ponto alto, diz o analista, é o caso da Intuitive Surgical (I1SR34), uma empresa do setor de aparelhos médicos.
“Essa companhia faz uma máquina chamada Da Vinci que faz cirurgias por robótica. Eles são líderes nesse segmento, têm conseguido ampliar os negócios e conseguem inclusive monetizar as máquinas depois da venda também”, destaca. Além disso, segundo o analista, essa é uma ação de peso para o S&P 500, já que a companhia é avaliada em mais de US$ 100 bilhões.
Também os bancos americanos se diferenciaram pela qualidade dos números reportados do 3T24.
“Me chamou atenção que os bancos começaram a colocar as linhas de investment banking pra trabalhar de verdade. E pareceram muito limpinhos os resultados deles de forma geral”.
O que esperar do cenário pós-eleições americanas lá fora e no Brasil?
Na visão de Piccioni, independente do resultado das eleições, o horizonte deve continuar construtivo para a renda variável. O único adendo é uma possível realização de lucros no curto prazo caso Kamala Harris vença.
“Mas seria um efeito muito passageiro”, enfatiza o analista. “O mercado tende a logo voltar a se concentrar nas empresas que reportaram os melhores resultados e voltar a comprar Bolsa até o final do ano”.
No Brasil, ele acredita que a força do dólar ainda possa comprimir os retornos nos últimos meses de 2024. “Passadas as eleições, talvez a gente tenha aquela corrida de final de ano, aquele rali clássico de natal, principalmente se o governo local vier com corte de gastos”, afirma.
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‘O que vem depois das eleições todo mundo já sabe’
Para Piccioni, o cenário pós-eleições não parece vir muito diferente do que o mercado já viu anteriormente: “O que vem depois das eleições todo mundo já sabe. A Kamala é o Biden 2.0 e o Trump a gente já sabe mais ou menos o que vai tentar fazer”.
O analista acredita que o candidato republicano tentará artifícios para arrefecer o preço do petróleo, via subsídios para o setor e aumento da produção na economia americana.
“Ele sabe que isso pode trazer um desafogo pra economia. É um cara mais hábil nessa dinâmica econômica; já tentou isso no passado e pode tentar fazer de novo”, explica.
Inclusive, Piccioni destaca a alta das taxas de juros americanas de 10 anos. “Os Treasuries de longo prazo são um importante balizador do apetite a risco global e vêm sinalizando que as medidas que Trump está colocando na mesa deve fazer com que a inflação fique resiliente no ano que vem, o que ajuda a valorizar o dólar também”.
Ele também acrescenta que os juros de curto prazo já são negociados a taxas mais baixas que os de longo prazo, o que mostra uma maior racionalidade da economia. “Isso é positivo sob uma ótica de ações, de economia. Vai se construindo um cenário mais propício para investimentos lá”.
Além disso, caso Trump seja eleito, as criptomoedas podem ter um rali muito forte, afirma o analista.
“Já temos visto inclusive o Bitcoin andar muito bem nos últimos 20 dias. Se o Trump ganhar, acho que é a deixa para o ativo romper novas máximas”.
Em relação às ações americanas, Piccioni crê que o “playbook” de Trump de reduzir impostos pode ajudar a melhorar a situação das small caps, além de continuar impulsionando as big techs.
Para assistir na íntegra o programa do Giro do Mercado desta quarta-feira (23), clique aqui:
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