Durante o encerramento do 7º Fórum de Mídia e Think Tanks dos Brics, realizado no Rio de Janeiro, representantes dos países membros destacaram, antes de tudo, a importância de fortalecer a soberania digital e tecnológica. Além disso, um dos pontos centrais do encontro foi a proposta de criação de um instituto voltado ao desenvolvimento de inteligência artificial no âmbito do bloco. Essa iniciativa, por sua vez, representa um movimento estratégico que visa romper, de forma progressiva, com a dependência tecnológica do Ocidente. Como resultado, busca-se ampliar significativamente o protagonismo do Sul Global nos debates internacionais sobre inovação e governança digital. Portanto, neste contexto de transformação e reposicionamento geopolítico, o tema Brics e inteligência artificial ganha ainda mais relevância.
Brics reforça soberania e cooperação internacional
O fórum reuniu aproximadamente 250 participantes, entre autoridades, acadêmicos e jornalistas. Um dos consensos foi a defesa da soberania dos países do Sul Global em um cenário cada vez mais marcado por disputas tecnológicas e geopolíticas. O diretor-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Braúlio Ribeiro, defendeu o fortalecimento do multilateralismo como ferramenta para reduzir assimetrias de poder no sistema internacional.
A ideia de soberania, segundo os debatedores, não deve se restringir apenas ao campo político. Ela também precisa se aplicar aos meios de comunicação, produção de conhecimento e domínio de tecnologias emergentes. Essa visão mais ampla é essencial para garantir que as nações em desenvolvimento possam avançar de forma autônoma e sustentável.
Criação de um instituto de IA é destaque
A proposta de criação de um instituto de inteligência artificial foi uma das mais importantes do encontro. O objetivo é reunir esforços de pesquisa, desenvolvimento e aplicação da IA voltados às realidades dos países do bloco. A medida reforça o compromisso do Brics com o uso ético e responsável da tecnologia, especialmente em setores como saúde, educação, segurança e serviços públicos.
A criação desse instituto visa não apenas ampliar a capacidade técnica do grupo, mas também garantir maior representatividade nas discussões globais sobre inteligência artificial. Como afirmou Braúlio Ribeiro, a ideia é construir alternativas tecnológicas que respeitem os valores, a cultura e os interesses do Sul Global. Essa abordagem reforça o papel estratégico da relação entre Brics e inteligência artificial.
Reações às tensões externas
Apesar de o evento não adotar um tom de confronto direto, houve críticas veladas às pressões externas, especialmente vindas de potências ocidentais. Recentes declarações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriram a imposição de sanções a países que aprofundarem vínculos com o Brics. Em resposta indireta, o presidente da agência chinesa Xinhua, Fu Hua, reafirmou que o bloco é “uma ponte de diálogo” e não um instrumento de divisão global.
Outros representantes defenderam que o Brics deve continuar a atuar como espaço de convergência entre países que compartilham desafios semelhantes, inclusive no campo digital. Wu Hailong, presidente da Associação de Diplomacia Pública da China, reiterou que o foco do grupo está na construção de consensos e na promoção da paz e do progresso global.
Comunicação estratégica e desafios do bloco
Um ponto recorrente nas discussões foi a necessidade de o Brics fortalecer sua presença na mídia internacional. O professor Pedro Aguiar, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destacou que a construção de uma narrativa própria é essencial para ampliar a legitimidade do bloco diante da opinião pública global. Isso inclui investir em veículos de comunicação, redes multilíngues e canais de diálogo com a sociedade civil.
Essa preocupação está diretamente ligada à proposta do instituto de IA, já que a inteligência artificial pode ser usada tanto para amplificar discursos quanto para manipulá-los. Dominar essa tecnologia é, portanto, uma questão estratégica.
Conclusão
O Fórum de Mídia e Think Tanks dos Brics demonstrou que o grupo está empenhado em ampliar sua autonomia digital e sua influência global. A criação de um instituto de inteligência artificial, aliada à defesa da soberania dos países do Sul Global, representa um avanço significativo. Ao integrar tecnologia e diplomacia, o tema Brics e inteligência artificial se consolida como um dos eixos centrais da nova geopolítica.