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Ata do Fomc nos EUA e Bolsonaro acusado de tentativa de golpe pela PGR; confira os destaques do dia no mercado

A quarta-feira (19) é marcada pela expectativa em torno da divulgação da ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), nos Estados Unidos, que será liberada no período da tarde. O documento deve reforçar o tom cauteloso do Federal Reserve em relação a uma eventual flexibilização da política monetária, refletindo as preocupações persistentes com a inflação. Na contramão das apostas anteriores, cresce o temor de que o Fed possa, inclusive, considerar novas elevações das taxas, movimento que tem impulsionado o dólar e pressionado os mercados emergentes — as incertezas em torno do impacto das tarifas propostas por Trump apoiam essa visão.

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O pregão asiático fechou de forma mista, refletindo reações divergentes às recentes declarações de Trump. No Japão, o clima foi predominantemente negativo, após o ex-presidente americano indicar a possibilidade de uma taxação de 25% sobre importações de veículos, produtos farmacêuticos e semicondutores. Já na China, o humor foi mais equilibrado, sustentado por novos sinais de estabilização do mercado imobiliário, que segue sob vigilância após meses de volatilidade. Na Europa, as bolsas operam em queda nesta manhã, em meio à avaliação de resultado corporativos e à divulgação da inflação no Reino Unido, que superou as expectativas do mercado. 

Por aqui, o destaque político da noite de ontem (18) foi a denúncia formal da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado. Surpreendente? Apenas para quem não estava prestando atenção. Mais do que um episódio isolado, o desdobramento promete reverberar nas articulações políticas para as eleições de 2026. 

· 00:57 — Vale trocar um indulto por um apoio formal à presidência?

O mercado brasileiro voltou a presenciar ontem (18) um movimento de fortalecimento do real, refletindo o apetite estrangeiro pelo carry trade. Embora o rali da moeda local em 2025 seja notável, é difícil comemorar um câmbio ainda na casa dos R$ 5,69. No entanto, o fluxo externo tem sido robusto, impulsionado por fatores como o sucesso do leilão de NTN-B, a oferta de US$ 3 bilhões em linha e a primeira captação de bonds do Tesouro em 2025, que levantou US$ 2,5 bilhões com uma demanda mais que dobrada em relação ao montante ofertado. Outro aspecto relevante é a significativa descompressão na curva de juros. No final de 2024, o mercado chegou a precificar uma Selic terminal próxima de 17%, em meio ao caos fiscal e político. No entanto, com a valorização dos ativos domésticos e os sinais claros de desaceleração da atividade econômica, a precificação atual aponta para uma Selic terminal em torno de 15%. Trata-se de uma mudança expressiva e, em tese, positiva. No entanto, é cedo para qualquer celebração mais entusiasmada. As fragilidades fiscais que desencadearam a correção no final de 2024 permanecem intactas, e novos episódios de volatilidade são não apenas possíveis, mas prováveis — especialmente diante da longa estrada até as eleições de 2026 e a inclinação do governo em dobrar suas apostas populistas.

Ontem mesmo, por exemplo, durante uma reunião ministerial da qual o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi excluído, membros da ala política do governo apresentaram a Lula mais um diagnóstico distorcido. Impressiona como essa ala segue incapaz de fazer contas básicas ou de formular uma leitura minimamente precisa da conjuntura. Nessa toada, o governo não apenas se distancia de um ajuste fiscal crível, mas também arrisca comprometer ainda mais a popularidade de Lula e, consequentemente, as chances do PT em 2026. Um cenário que, embora favorável ao mercado no longo prazo, promete ser turbulento até lá. Em paralelo, o tabuleiro eleitoral ganhou novos contornos com a denúncia formal da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de participação em uma trama golpista para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022. A denúncia será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ainda neste semestre, o que deve sacramentar a inelegibilidade do ex-presidente.

O ponto crucial agora é observar como Bolsonaro reagirá diante desse cenário. A inelegibilidade abre espaço para negociações e realinhamentos políticos, incluindo a possibilidade de um indulto em troca de apoio formal nas eleições — algo que, se concretizado, poderia redefinir os rumos da corrida presidencial. Esse vácuo de liderança deveria, em tese, fortalecer um nome mais pragmático e palatável para o mercado, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Um candidato com viés reformista, fiscalmente responsável e moderado, seria bem recebido pelos investidores, mesmo com as eleições ainda distantes. Contudo, o caminho está longe de ser linear.

Se a direita insistir em evitar um apoio claro a um candidato competitivo ou, pior, optar por aventurar-se em nomes amalucados ou ligados diretamente à família Bolsonaro, o risco de fragmentação aumenta consideravelmente. Essa divisão pode enfraquecer a oposição e, por consequência, dificultar a ascensão de uma candidatura pró-mercado e comprometida com o equilíbrio fiscal. Em meio a essa incerteza política, os mercados devem continuar reagindo de forma volátil.

· 01:44 — Novo recorde

Nos Estados Unidos, o S&P 500 retornou do feriado do Dia dos Presidentes em alta, buscando consolidar seu segundo fechamento recorde do ano. O avanço foi liderado pelos setores de energia e materiais, com os serviços públicos logo atrás, corroborando a tese de rotação setorial que já mencionei anteriormente. Essa movimentação sugere que o mercado está se ajustando a um ambiente de menor dependência das empresas de tecnologia, ampliando seu foco para segmentos mais tradicionais e cíclicos.

Curiosamente, não houve um único catalisador claro para impulsionar os mercados. O sentimento predominante parece refletir um certo alívio em relação ao comércio global, mesmo diante das reiteradas ameaças tarifárias do presidente Donald Trump. Os investidores, ao que tudo indica, encaram essas tarifas mais como uma tática de negociação do que como uma política efetivamente destrutiva.

Na agenda econômica, o destaque do dia fica por conta da divulgação da ata da reunião de janeiro do Federal Open Market Committee (Fomc). O tom do documento pode ser determinante para o humor do mercado. Se as atas revelarem que a maioria dos membros do comitê considera adequado manter as taxas de juros nos níveis atuais por um período prolongado, isso tenderia a ser interpretado de forma negativa, sinalizando um ambiente mais restritivo para os ativos de risco. No front corporativo, a Apple deve anunciar hoje o lançamento de um novo modelo mais acessível do iPhone.

· 02:39 — Mais tarifas

Como já mencionei anteriormente, as tarifas propostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parecem funcionar mais como uma tática de negociação do que como uma medida concreta de política comercial. No entanto, em um discurso ontem, Trump indicou que planeja avançar com a imposição de tarifas de aproximadamente 25% sobre automóveis, semicondutores e medicamentos importados, com um anúncio oficial previsto para 2 de abril. Essa decisão, caso implementada, marcaria uma escalada significativa na já complexa guerra comercial conduzida por seu governo.

Ainda pairam dúvidas sobre os detalhes da proposta, especialmente no que diz respeito aos veículos produzidos sob os acordos de livre comércio firmados com o Canadá e o México. Não está claro se essas mercadorias seriam isentas das novas tarifas, o que adiciona uma camada de incerteza ao cenário. Se aplicadas sem exceções, as medidas poderão afetar não apenas os parceiros comerciais mais próximos dos EUA, mas também mercados mais amplos, como o europeu e o asiático, intensificando as tensões comerciais globais. Esse movimento, embora ainda envolto em incertezas, reforça a abordagem característica de Trump: endurecer a retórica como parte de sua estratégia de barganha, com o objetivo de forçar concessões.

· 03:23 — Pode ter colocado tudo a perder

Na última sexta-feira (14) à noite, a presidência de Javier Milei entrou em uma crise inesperada. O presidente argentino direcionou seus seguidores para um site que promovia a arrecadação de fundos destinados a pequenas empresas argentinas por meio de criptomoedas. O que parecia ser mais uma iniciativa alinhada à sua postura liberal rapidamente se transformou em um escândalo de grandes proporções. Em tempo real, ao valor do token Libra, uma memecoin, disparou de forma vertiginosa. O valor de mercado do ativo saltou rapidamente de US$ 1 bilhão para US$ 2 bilhões, ultrapassando a marca de US$ 4 bilhões em questão de horas. Como é comum nesse tipo de mercado especulativo, a ascensão meteórica foi seguida por um colapso igualmente abrupto, resultando em perdas milionárias para investidores que haviam sido atraídos pela onda de entusiasmo gerada pela associação indireta com Milei.

O desfecho foi desastroso. Investidores, revoltados, rotularam o episódio como “o maior rug pull de todos os tempos” — expressão usada para descrever fraudes em que os criadores de um ativo digital retiram rapidamente os fundos, deixando os investidores com prejuízos. O erro de Milei foi duplo: primeiro, ao endossar, ainda que indiretamente, uma iniciativa sem a devida diligência; depois, ao tentar minimizar seu papel no escândalo, como se sua imagem não estivesse intrinsecamente ligada ao ocorrido. Esse deslize coloca em xeque não apenas sua credibilidade pessoal, mas também o projeto político que ele representa — uma alternativa liberal e reformista para a América Latina, que vinha ganhando tração e simpatia, inclusive fora das fronteiras argentinas. Embora um processo de impeachment pareça improvável neste momento, o dano político é inegável. Milei, até então em uma trajetória de sucesso, acumulava capital político suficiente para colher os frutos de suas políticas nas eleições de meio de mandato, ainda este ano. No entanto, essa crise oferece munição aos seus adversários, que não hesitarão em explorar o episódio como prova de sua imprudência.

Trata-se de um revés lamentável, principalmente porque, até aqui, Milei vinha conduzindo sua agenda com relativa eficácia. Em um cenário político tão polarizado como o da Argentina, um deslize desse porte pode ser o suficiente para desestabilizar todo um projeto de governo. Se quiser preservar sua viabilidade política e manter sua relevância como símbolo de uma nova direita latino-americana, Milei precisará adotar uma postura mais cautelosa, reconhecendo seus erros e reconstruindo a confiança.

· 04:12 — O desafio alemão

Como já abordei anteriormente, a base industrial da Alemanha enfrenta um processo de deterioração contínua, pressionada por múltiplos fatores: o aumento expressivo nos custos de energia, a elevação das despesas com mão de obra e o impacto das altas taxas de juros. Essa combinação tem comprometido a competitividade do setor manufatureiro, historicamente o motor econômico do país. Nesse contexto, caso Friedrich Merz saia vitorioso nas eleições de 23 de fevereiro, ele enfrentará uma série de desafios complexos e interligados, exigindo soluções pragmáticas e delicadas.

O primeiro obstáculo no caminho de Merz pode ser, ironicamente, externo: as tarifas comerciais propostas por Donald Trump. O presidente norte-americano já sinalizou a intenção de impor uma taxa de 25% sobre veículos, semicondutores e produtos farmacêuticos importados, o que atingiria em cheio a poderosa indústria automotiva alemã, além de comprometer as exportações de tecnologia avançada. A dependência da Alemanha do comércio exterior torna essa ameaça particularmente sensível, exigindo de Merz uma diplomacia comercial habilidosa para evitar danos profundos.

Em paralelo, Merz terá que lidar com outro problema premente: a crise energética. Desde a interrupção do fornecimento de gás russo — tradicionalmente a espinha dorsal do sistema energético alemão —, o país tem acelerado sua transição para fontes renováveis. No entanto, essa mudança permanece incompleta e enfrenta obstáculos significativos, como a insuficiência de infraestrutura para integrar a energia gerada por parques eólicos e solares à rede nacional. Sem uma solução robusta e bem coordenada, a insegurança energética continuará a pressionar a indústria.

Talvez a questão mais controversa, no entanto, seja o dilema fiscal. A Alemanha opera sob um rigoroso “freio da dívida” (o Schuldenbremse), um dispositivo constitucional que limita o endividamento público. Foi justamente a disputa sobre o orçamento e o aumento dos gastos que levou ao colapso da coalizão governante no ano passado. Afrouxar essa restrição exigiria uma mudança constitucional ou, no mínimo, um consenso político amplo — algo difícil de alcançar em um ambiente de polarização crescente. Em resumo, Friedrich Merz, caso chegue ao poder, terá que navegar por um campo minado econômico e político. Suas primeiras decisões definirão não apenas o rumo da economia alemã, mas também sua capacidade de consolidar uma liderança estável em meio a um cenário interno e externo volátil. 

· 05:08 — Ainda dá para entrar em BABA?

As ações da Alibaba (NYSE: BABA) acumularam uma valorização expressiva de 49% neste ano, impulsionadas pelo crescente otimismo em torno dos avanços da empresa no campo da inteligência artificial e pelos rumores de uma parceria estratégica com a Apple para o desenvolvimento de recursos baseados em IA. A grande questão agora é: após esse rali significativo, ainda existe espaço para mais valorização?

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