Taxas do DI sobem com tensão comercial entre Brasil e EUA
As taxas do DI fecharam em forte alta nesta terça-feira, refletindo o aumento da percepção de risco no mercado financeiro brasileiro. O movimento foi impulsionado por fatores políticos e econômicos, especialmente pela tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos e por uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Decisão judicial e impacto imediato nas taxas do DI
O ministro Flávio Dino determinou que leis estrangeiras não podem ter efeitos diretos em território nacional quando relacionadas a atos praticados no Brasil. A medida afeta, por exemplo, sanções impostas recentemente a autoridades brasileiras pelos Estados Unidos. O mercado interpretou a decisão como um entrave adicional para negociações diplomáticas, aumentando a incerteza sobre os rumos das relações bilaterais.
Dessa forma, investidores passaram a exigir prêmios maiores, o que fez as taxas do DI subirem de forma significativa. O contrato para janeiro de 2027 encerrou o dia em 14,12%, acima do ajuste anterior de 13,953%. Já o contrato de janeiro de 2028 atingiu 13,5%, com alta de 24 pontos-base. Entre os vencimentos mais longos, o contrato para 2031 subiu para 13,71% e o de 2033 alcançou 13,83%.
A tarifa de 50% e o peso sobre os ativos
O principal fator de instabilidade continua sendo a tarifa de 50% aplicada por Washington sobre produtos brasileiros. Apesar das tentativas do governo Lula de reabrir canais de negociação, as dificuldades diplomáticas aumentaram após a decisão judicial. Além disso, o ex-presidente Donald Trump tem condicionado a revisão da tarifa a mudanças no processo contra Jair Bolsonaro, o que adiciona caráter político ao impasse comercial.
Essa combinação fortalece a percepção de risco e justifica a escalada das taxas do DI. Com mais incertezas no horizonte, investidores exigem maiores retornos para compensar os riscos de exposição ao mercado brasileiro.
Repercussão externa e influência do Fed
Paralelamente às questões internas, o cenário internacional também exerceu influência significativa sobre as decisões dos agentes. Além disso, a atenção dos mercados globais permaneceu voltada ao simpósio de Jackson Hole, evento tradicional que reúne autoridades do Federal Reserve e economistas. Nesse contexto, o discurso do chair Jerome Powell, previsto para sexta-feira, poderá, portanto, influenciar de maneira decisiva as expectativas de política monetária nos Estados Unidos.
Atualmente, operadores apostam em cortes de juros pelo Fed já em setembro, com mais reduções até o fim do ano. Entretanto, qualquer sinal de postura mais rígida contra a inflação pode alterar projeções e gerar reflexos no Brasil. Essa incerteza global contribui para a volatilidade das taxas do DI, que permanecem sensíveis ao cenário externo.
Risco político e curva de juros futuros
O aumento das taxas do DI expõe a forte ligação entre risco político e comportamento da curva de juros futuros. Quando cresce a percepção de que o ambiente institucional está instável, investidores passam a precificar maiores custos de financiamento. Essa reação se traduz em elevação das taxas, que impactam diretamente empresas, consumidores e o próprio governo.
Além disso, o acúmulo de tensões comerciais e judiciais amplia a instabilidade no mercado. A falta de clareza sobre a resolução do impasse com os Estados Unidos mantém os prêmios elevados, dificultando previsões mais otimistas para os próximos meses.
Perspectivas para o curto e médio prazo
No curto prazo, o comportamento das taxas do DI continuará condicionado ao andamento das negociações comerciais e às sinalizações do Federal Reserve. Se Washington adotar novas medidas contra o Brasil, a tendência é de novas pressões sobre a curva de juros. Em contrapartida, cortes de juros no exterior poderiam oferecer algum alívio.
Já no médio prazo, o desafio do governo brasileiro será equilibrar a política doméstica com as exigências internacionais. Sem avanços consistentes nas conversas bilaterais, os ativos locais podem permanecer sob estresse, mantendo as taxas do DI em níveis elevados.
Conclusão
As taxas do DI subiram de forma expressiva diante da combinação entre decisão judicial, tensões diplomáticas e incertezas globais. O impasse com os Estados Unidos, somado às expectativas em torno da política monetária do Fed, intensifica a volatilidade no mercado brasileiro. Em resumo, os investidores exigem prêmios mais altos diante do risco político e comercial, o que mantém a curva de juros pressionada.