O desempenho recente do Ibovespa não tem sido muito inspirador, com a piora do humor e aumento da aversão global ao risco, e também a performance de Eletrobras (ELET3; ELET6) não tem sido das melhores. No último mês, a ação cai 10%.
Mas o que mais nos chamou a atenção foi o desempenho do índice de energia elétrica (IEEX), historicamente tido como “defensivo” pelos investidores. Mas não é o que mostra o gráfico abaixo:
De cara, já notamos que o período tem sido desafiador para as elétricas de maneira geral, e não apenas para a Eletrobras.
O ponto da MP de abril que pode ser danoso para as elétricas
É verdade que a Medida Provisória 1.212/2024, aprovada no início de abril, trouxe o compromisso de a Eletrobras adiantar as contribuições para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) – que antecipa obrigações de R$ 25 bilhões em praticamente 20 anos.
Aqui é importante notar que não foram divulgados detalhes importantes como a taxa de desconto para esse adiantamento, prazo das parcelas e se esse montante eliminaria todas as obrigações de R$ 32 bilhões assumidas pela Eletrobras com a CDE na privatização. Mas apesar de esperarmos alguma dificuldade em financiar esse desembolso nas condições de mercado atuais, é possível que a operação seja positiva para a Eletrobras em termos de Valor Presente Líquido.
Ou seja, não é necessariamente daí que vem o mau humor. Na verdade, um outro ponto na mesma MP, que não é sobre a Eletrobras, é muito mais danoso para a companhia e para o setor.
Estamos falando da prorrogação dos subsídios para projetos renováveis obterem desconto nas tarifas de transmissão (TUSD) por mais três anos.
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Por que isso é ruim para a Eletrobras e para o setor?
Porque aumenta ainda mais a já enorme sobreoferta de energia, subsidia fontes com custos elevados e traz desequilíbrios adicionais para o setor, em mais um exemplo negativo de interferência política.
É importante mencionar que isso não necessariamente significa que teremos uma entrada adicional relevante de renováveis na matriz, dado que o cenário de preços baixos de energia deve desincentivar boa parte dos projetos, no entanto isso não ajuda a melhorar o sentimento no curto prazo.
Falando em preços, para piorar um pouco mais o humor, no início do mês o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgaram a revisão das previsões de carga para 2024 – 2028.
Apesar do ajuste anual para cima de aproximadamente 0,4%, a alta não só ficou abaixo das expectativas como boa parte do crescimento esperado é proveniente da geração distribuída, o que também não ajuda as hidro/termelétricas.
Depois de uma boa recuperação com perspectivas de aumento do consumo, repare como o preço de contratos de longo prazo desabou desde o início de abril – efeito que foi exacerbado pela já mencionada extensão de incentivos às renováveis na MP 1.212.
As geradoras, de maneira geral, sofrem com esse cenário de queda de preços, mas quem dera fosse só isso…
Os últimos dois Governos Federais vêm empurrando com a barriga a definição dos termos de renovação da concessão de distribuidoras, cujas diretrizes deveriam ter sido definidas em dezembro de 2023.
Investidores não têm mais a garantia da renovação da concessão de distribuidoras de energia
Se há alguns anos a perspectiva de renovação era certa e com termos amigáveis para as empresas que cumprissem as metas de qualidade, nem essa garantia os investidores têm mais.
Neste momento, há receios de que o governo cobre outorgas pesadas pelas renovações e que as metas sejam desafiadoras demais, especialmente após a recente polêmica envolvendo a Enel em São Paulo.
Além disso, existe a possibilidade de que as distribuidoras arquem com parte dos subsídios para reduzir a tarifa para os consumidores – que, acredite se quiser, só são absurdamente caras por causa de medidas como a extensão dos benefícios às renováveis aprovada pela MP 1.212/2024 em abril, vai entender…
Todos esses sinais de interferência, especialmente com relação aos subsídios, contrapartidas na renovação das distribuidoras e questionamentos com relação à privatização da Eletrobras, atrapalham a confiança do investidor.
Prova disso é um relatório recente do UBS, que alertou para a deterioração do ambiente nos últimos meses por causa dos fatores mencionados.
Reprodução: Folha de S. Paulo.
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O cenário atual não tem nada a ver com a MP de 2012, que abalou o mercado
Tenha em mente que o investidor de utilities, principalmente o gringo, carrega cicatrizes profundas da desastrosa MP 579/2012, que abalou por anos a confiança no setor elétrico.
Antes que você se assuste, não estamos esperando nada parecido neste momento, e já temos ouvido de nomes respeitados de dentro do setor que há um movimento de empresas relevantes para mostrar as consequências danosas dessas medidas aos legisladores e trazer medidas mais pró-mercado. Mas cachorro mordido por cobra…
Obviamente, isso também afeta a Eletrobras. No entanto, nem tudo é notícia ruim, e a extensão do prazo de conciliação entre Eletrobras e União por mais 90 dias protocolado pela AGU no início de abril indica que as negociações sobre a limitação de votos estão caminhando. Inclusive, o já mencionado adiantamento dos R$ 25 bilhões para a CDE, em nossa visão, é parte disso.
Além disso, segundo notícias recentes da Bloomberg, como parte dessas negociações, ainda podemos ver o número de assentos no conselho subir de 9 para 11, sendo três deles do governo, que passaria a ter 27% de representação, maior do que o limite de 10% dos votos mas ainda bem longe de uma posição de controle, o que é boa notícia para os minoritários.
Ainda segundo a reportagem, em contrapartida a Eletrobras poderia vender sua participação na Eletronuclear, o que seria bastante positivo por eliminar os riscos de necessidade de futuras capitalizações em Angra 3.
A Empiricus Research segue confiante com Eletrobras
É claro que o cenário piorou no setor após as mudanças recentes, mas a assimetria está bastante convidativa para a Eletrobras, especialmente se levarmos em conta que nada do que mencionamos aqui afeta a trajetória de melhora de resultados que temos visto recentemente. Por 6x Valor da Firma/Ebitda, Eletrobras (ELET6) segue como uma recomendação da Empiricus Research.
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