A Coelce (COCE5) divulgou resultados abaixo das expectativas, principalmente por conta de um aumento na linha de despesas gerenciáveis.
A Receita Líquida atingiu R$ 2,1 bilhões, uma queda de -3,3% na comparação com o 4T22. Mas é importante notar que ao se excluir as receitas de construção, que foram menores neste trimestre, a Receita Líquida teria crescido 7%, ajudada pelo maior volume de energia distribuída.
No trimestre, vimos um aumento nos custos não gerenciáveis (+8% vs 4T22), especialmente por conta do aumento nos preços de energia comprada para revenda, e também nos encargos setoriais. Mas é bom lembrar que os custos não gerenciáveis tendem a ser repassados aos consumidores em futuras tarifas.
Por outro lado, os gastos gerenciáveis, excluindo as despesas com construção cresceram 21% no período, para R$ 1,6 bilhão, com maiores despesas com materiais e serviços de terceiros. Com esse efeito negativo, o Ebitda caiu -26%, para R$ R$ 394 milhões.
Lucro líquido foi impactado por juros elevados e volume de empréstimos
O resultado financeiro foi impactado por juros mais elevados, aumento do volume de empréstimos no período, e com esses efeitos o lucro líquido acabou recuando de R$ 251 milhões para R$ 28 milhões no 4T23.
Com relação aos índices de qualidade, tivemos melhora tanto no DEC (duração das interrupções) como no FEC (frequência das interrupções), reflexo de melhorias que a companhia vem implementando na região, tais como podas, automação, etc.
Por outro lado, o índice de perdas piorou um pouco (+2,4 p.p.), o que provavelmente está ligado ao aumento do volume de energia distribuída, especialmente pelas ondas de calor, e maiores níveis de furto.
Apesar dos resultados abaixo das expectativas, enxergamos a Coelce negociando por níveis bastante atrativos de valuation (5,2x Valor da Firma/Ebitda).
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Coelce vai sair da Bolsa?
Continuamos a monitorar um aspecto crucial da nossa análise: o possível fechamento de capital. As notícias recentes não foram particularmente promissoras, visto que a Enel pausou temporariamente os planos para a alienação da Coelce.
Observamos, desde a segunda metade de 2023, que as negociações, previamente em estágios avançados, enfrentaram contratempos devido a divergências sobre o método de pagamento do ativo. Adicionalmente, a licença operacional da distribuidora cearense expira em 2028, um ponto ainda sujeito a aprovação regulatória pendente.
Durante o processo, tanto a CPFL quanto a Equatorial demonstraram interesse pelo ativo, contudo, o acordo esbarrou na condição de que parte do pagamento ocorresse na renovação da concessão, gerando incertezas sobre a conclusão do negócio.
Espera-se que a questão da renovação seja resolvida em seis a nove meses, após o qual, antecipa-se um retorno mais vigoroso às negociações. A Coelce atende a uma demanda de 4,2 milhões de consumidores em 184 municípios, numa área de expansão significativa.
Dito de outra forma, a questão precisa ser resolvida inevitavelmente.
A importância da renovação da concessão para o cenário de Coelce
Conforme as normativas do setor elétrico, a renovação da concessão deveria ter sido formalizada pela União em julho de 2022. As empresas envolvidas buscam uma renovação sem custos de outorga, enquanto o Ministério de Minas e Energia advoga por compensações sociais pelas concessionárias em troca da renovação, com foco na melhoria dos serviços ao consumidor.
A Enel detém 74% da distribuidora cearense e expressou o desejo de vender sua participação em novembro do ano anterior. A distribuidora tem um valor estimado em cerca de R$ 3,5 bilhões na B3, contando também a Eletrobras entre seus acionistas principais. Esta venda, se concretizada, está posicionada para ser uma das transações mais notáveis do ano.
Apesar das adversidades atuais, a Enel continua a avançar na redução de seu endividamento, como parte de um plano global de desinvestimento estimado em US$ 21,5 bilhões. A empresa já realizou a venda da Celg-D para a Equatorial Energia por R$ 1,6 bilhão em setembro de 2022, além de alienar uma usina termoelétrica em Fortaleza por R$ 500 milhões no ano passado.
Esse movimento fortalece a tese de fechamento de capital.
Portanto, ainda que o panorama presente pareça incerto e os resultados corporativos até agora não sejam os mais favoráveis, permanecemos convictos na validade desta tese de investimento e na expectativa de que a negociação alcance uma conclusão satisfatória. Com base nisso, reiteramos nossa recomendação de compra para Coelce (COCE5).
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