Retornamos do feriado da Consciência Negra, que manteve o mercado local fechado, enfrentando a digestão dos resultados da Nvidia (NVDC34) e mantendo o foco no aguardado pacote de corte de gastos do governo.
A Nvidia, peça central do rali de Inteligência Artificial, apresentou números trimestrais acima do esperado. Ainda assim, as ações recuaram no after-market de ontem (20) e continuam em queda no pre-market desta manhã (21). Esse movimento reflete um paradoxo do mercado: independentemente da qualidade dos resultados, qualquer desempenho que não supere as expectativas mais otimistas (o topo das projeções) ou que mostre uma taxa de superação inferior à do trimestre anterior é suficiente para provocar uma realização de lucros. Trata-se de um comportamento imprudente, mas recorrente em momentos de euforia.
Nesse cenário, a Nvidia promete ser a protagonista negativa do dia. Além disso, merece atenção o desenrolar das tensões entre Rússia e Ucrânia, que ganharam novos contornos após uma escalada de ambos os lados.
No Brasil, as atenções permanecem voltadas para o pacote fiscal, com expectativa de que as medidas de corte de gastos sejam anunciadas ainda nesta semana, após o feriado. No dia de folga, ações brasileiras listadas no exterior apresentaram desempenho positivo, mas o verdadeiro gatilho para os mercados locais continua sendo a definição de medidas concretas no âmbito doméstico. Os futuros americanos e índices europeus caem nesta manhã, em linha com o que foi o dia na Ásia, dotado de contornos mais negativos.
· 00:58 — Vai atrasar mais uma vez, para variar?
As ADRs brasileiras listadas em Nova York tiveram um desempenho positivo na quarta-feira (20), com alta em ações de destaque como Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3). O movimento reflete um dia favorável para as commodities, que devem sustentar parte desse otimismo hoje, mesmo diante de um cenário internacional mais desafiador nesta quinta-feira (21). No entanto, o foco principal do mercado local permanece voltado para o pacote fiscal — após negociações, o governo conseguiu um acordo com a Defesa para cortes na previdência dos militares, destravando a última pendência do pacote.
Hoje, o ministro Haddad tem uma nova reunião agendada com o presidente Lula, aparentemente para finalizar os “últimos ajustes” – expressão que já se repetiu inúmeras vezes ao longo desse processo. Ainda assim, o mercado permanece cético e reflete esse descontentamento nos preços dos juros e do câmbio, em meio à incerteza sobre se o pacote será, de fato, fechado e apresentado hoje (21). Quer a materialização.
A saga do pacote fiscal já se arrasta há semanas. Inicialmente, o anúncio era esperado logo após as eleições municipais. Depois, especulava-se que seria divulgado antes do início do G20 no Rio de Janeiro. Agora, a promessa é de que o anúncio ocorra entre hoje e a semana que vem, mas o ritmo das decisões continua a depender de Lula. Enquanto os detalhes não são apresentados, os mercados locais permanecem travados, sem um gatilho claro para recuperação ou um rali de final de ano.
Além disso, a demora prolongada aumenta a pressão para que o pacote entregue mais do que números modestos ou medidas de curto prazo. Para atender às expectativas e oferecer um alívio genuíno ao mercado, o pacote precisará não apenas alcançar cifras significativas, mas também demonstrar um plano qualitativamente robusto, com medidas estruturais que mostrem um compromisso real com a consolidação fiscal.
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· 01:47 — A temporada por aqui não foi de se jogar fora
A temporada de resultados do terceiro trimestre no Brasil surpreendeu positivamente, contrariando expectativas mais cautelosas. Quando analisamos os números excluindo Petrobras e Vale — cujos tamanhos tendem a distorcer as médias gerais — o cenário é ainda mais encorajador. Receitas, EBITDA e lucro líquido das empresas superaram as estimativas, registrando aumentos anuais de 11,9%, 8,5% e impressionantes 28,4%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado. 16 dos 18 segmentos reportaram aumento de receita em relação ao terceiro trimestre de 2023.
Focando exclusivamente nas empresas domésticas, os resultados foram igualmente animadores. A performance também ficou acima das expectativas, com aumentos de 13% na receita, 18,3% no EBITDA e 20,9% no lucro líquido, todos em comparação anual. O segmento de commodities apresentou resultados mais mistos. Ainda assim, o desempenho geral do trimestre foi robusto, evidenciando que os fundamentos corporativos das empresas brasileiras permanecem robustos. O desafio agora é a falta de um gatilho claro para que os preços no mercado reflitam essa realidade positiva.
· 02:33 — Abalando a confiança
Nos Estados Unidos, o principal destaque da semana foi, sem dúvida, o tão aguardado resultado da Nvidia. Apesar de superar as expectativas, o desempenho não conseguiu empolgar os investidores como esperado. Após uma valorização superior a 200% apenas neste ano, o mercado demonstrou um nível de exigência mais elevado, o que contribuiu para uma recepção mais fria. Essa reação, por sua vez, desenha um cenário mais desafiador para o mercado nesta quinta-feira.
Adicionando ao clima de cautela, a Target (TGTB34)apresentou resultados abaixo do esperado, lançando uma sombra sobre o setor de varejo, em contraste com o bom desempenho do Walmart (WALM34). É comum que o final da temporada de resultados nos EUA seja dominado pelos balanços das grandes varejistas, e a performance da Target ressalta o comportamento mais seletivo dos consumidores americanos. Apesar de se mostrarem resilientes frente à inflação e às taxas de juros mais altas, os consumidores estão priorizando preços mais baixos e sendo mais criteriosos em suas escolhas.
No calendário de hoje (21), a reta final da temporada de resultados reserva a divulgação dos números da Ross Stores, que deverá trazer mais informações sobre a saúde do setor varejista e o comportamento do consumidor americano.
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· 03:26 — Afinal, foi bom ou ruim?
Apesar de entregar resultados acima das expectativas e de projetar um cenário positivo para os próximos trimestres, as ações da Nvidia registraram queda tanto no after-market de ontem quanto no pre-market de hoje. A empresa reportou uma receita de US$ 35,1 bilhões, superando a previsão dos analistas de US$ 33,2 bilhões, enquanto o lucrativo segmento de data centers mais que dobrou seu faturamento.
No entanto, a projeção de receita para o próximo período ficou abaixo do topo das estimativas, indicando que sua impressionante trajetória de crescimento impulsionada pela IA pode estar se aproximando de um limite. Entramos, assim, em um paradoxo de mercado: não importa a qualidade do desempenho, qualquer resultado que não supere as expectativas mais otimistas ou que apresente uma taxa de superação inferior à do trimestre anterior é suficiente para desencadear uma realização de lucros.
Em outras palavras, o resultado foi bom, mas o mercado sempre exige mais. Essa dinâmica é reflexo de uma ação que já precifica um cenário extremamente positivo para a companhia, estando próxima de sua máxima histórica após uma alta impressionante de aproximadamente 800% nos últimos dois anos — desde o lançamento do ChatGPT no final de 2022, que marcou o início da revolução da “IA Generativa”, a Nvidia assumiu o protagonismo no mercado, mas esse nível de valorização sugere que as expectativas estão em um patamar extremamente elevado, o que amplifica qualquer sinal de desaceleração (aumenta a chance de frustração).
· 04:15 — O Secretário do Comércio
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, indicou o bilionário Howard Lutnick, CEO da Cantor Fitzgerald, para assumir o cargo de secretário de Comércio. Caso sua nomeação seja confirmada, Lutnick terá como uma de suas principais responsabilidades a supervisão das tarifas, que, na prática, representam aumentos de impostos para os consumidores. Com essa escolha, Lutnick sai da disputa pelo cargo de secretário do Tesouro, para o qual era um dos nomes cotados — conflitos internos na equipe relacionados à indicação para o Tesouro teriam irritado Trump, levando à exclusão de Lutnick dessa posição estratégica.
A corrida para o cargo de secretário do Tesouro, por sua vez, segue aberta, com os principais candidatos sendo Marc Rowan, CEO da Apollo Global; Robert Lighthizer, ex-Representante Comercial dos EUA; Kevin Warsh, ex-Governador do Federal Reserve; e Scott Bessent, fundador da Key Square Group, que desponta como o favorito. O mercado enxerga Bessent, assim como Lutnick, como uma escolha mais moderada dentro do círculo de aliados mais “amalucados” de Trump. Por outro lado, nomes como Lighthizer, conhecidos por sua postura agressiva em questões comerciais, despertam apreensão entre investidores. Ainda que Lighthizer seja quase certo para algum cargo no novo governo, quanto mais distante do Tesouro ele estiver, melhor será a recepção por parte do mercado.
Essa hesitação de Trump em nomear um secretário do Tesouro contrasta com sua abordagem geralmente rápida para definir outros membros do gabinete. A demora reflete sua busca por um equilíbrio delicado: encontrar alguém alinhado com sua agenda econômica, que se mantenha leal às suas ideias — diferentemente de Steven Mnuchin, secretário do Tesouro em seu primeiro mandato, que frequentemente divergia de Trump —, mas que, ao mesmo tempo, não provoque alarme em Wall Street, já preocupada com os possíveis impactos das tarifas sobre a economia.
· 05:08 — O rali continua
O entusiasmo com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos continua alimentando o mercado de criptomoedas.
O Bitcoin atingiu um novo recorde histórico na manhã de hoje, superando pela primeira vez a marca de US$ 98.000, enquanto a expectativa em torno da nova administração republicana aquece ainda mais o setor. Além do Bitcoin, ações ligadas ao universo cripto, como Coinbase Global, MicroStrategy e Robinhood Markets, também registraram alta desde que ficou evidente que Trump retornaria à Casa Branca.
A percepção é de que as condições estão se alinhando favoravelmente para a indústria de criptomoedas com o início do segundo mandato do presidente eleito…
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