A Guerra na Ucrânia teve seu início no dia 24 de fevereiro de 2022, há exatamente três anos, quando a Rússia lançou uma invasão em larga escala ao território vizinho. De lá para cá, o país comandado por Volodymyr Zelensky tem 6,8 milhões de refugiados pela Europa (dados da agência de refugiados da ONU, do final de 2024) e perdeu 11% do território (segundo dados do Institute for the Study of War analisados pela CNN).
Agora, com a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, um novo risco também se aproxima: a maior ajuda militar, humanitária e financeira ucraniana pode estar ameaçada. Trump abriu negociações com o líder russo, Vladimir Putin, para colocar fim ao conflito e questionou o auxílio americano – que soma mais de US$ 95 bilhões desde o início da guerra. Segundo o republicano, esse apoio deveria vir em troca de transações com a Ucrânia, como o acesso aos minerais de territórios raros – o que Zelensky negou.
Apesar do conflito da Ucrânia e Rússia se concentrar no Leste da Europa, os efeitos podem ser sentidos ao longo de todo o continente.
Em entrevista ao portal da Empiricus, o analista de macroeconomia Matheus Spiess comentou sobre os principais impactos do embate.
Matérias-primas e crise energética
E: Bom dia, Matheus. Quando olhamos para o mercado de matérias-primas e energia, quais são as mudanças estruturais mais graves desde o início do conflito? Como os investidores se posicionaram diante da crise energética europeia e do redirecionamento do fluxo global de petróleo e gás natural?
MS: O que houve nitidamente é uma ruptura das trocas comerciais da Rússia com players internacionais robustos. Essa postura pressionou o preço das commodities e uma ilustração clara disso foi vista hoje, com a Alemanha. O país era muito dependente do gás barato, vindo da Rússia e, como consequência, sofreu uma queda brutal na indústria alemã após as altas do preço do produto. Como consequência disso, vimos uma mudança de pêndulo político na Alemanha nesse momento.
Ao mesmo tempo, o preço do barril de petróleo foi jogado pra cima e não voltou até agora para o patamar anterior. Podemos até esperar uma recuperação tímida [do preço do petróleo], se os EUA continuarem pressionando uma recuperação russa.
E: Quais outros setores foram atingidos pelo conflito? Houve alguma reconfiguração nas cadeias produtivas globais que se tornou mais evidente nesse período?
MS: O setor de defesa tem recebido grandes investimentos, como não posso deixar de mencionar, e essa é uma mudança que acredito que veio para ficar, principalmente na Europa.
Fora do continente, alguns mercados emergentes que buscaram a Rússia como alternativa de matéria-prima mais barata. A Índia, por exemplo, tem comprado petróleo mais barato; o Brasil, adquire fertilizantes com desconto da Rússia e assim por diante.
Volatilidade nos mercados
E: Como a guerra impactou a volatilidade dos mercados globais nos últimos três anos?
MS: A guerra foi um evento paradigmático, marcando uma ruptura que não víamos há décadas, desde o Muro de Berlim (em 1989). Essa ruptura naturalmente eleva o nível de percepção de risco, torna o ambiente mais volátil, o que era aguardado.
Podemos estar observando um movimento que veio para ficar, talvez estejamos diante do início do fim de uma era, na qual a globalização era vista como “herói” e o foco estava em eficiência. Agora, isso não é necessariamente verdade e o nível de risco, mesmo com a resolução do conflito, não some.
Perspectivas de curto e médio prazo
E: Caso o conflito caminhe para uma resolução, quais setores podem se beneficiar da reconstrução da Ucrânia? Como investidores poderiam se posicionar para essa possível nova fase?
MS: Para responder isso, é preciso observar a Europa mais de perto. O que conseguimos estimar é o que seria uma reconstrução da Ucrânia hoje. O esperado é que, em um escopo europeu, os benefícios recaiam para os segmentos de construção civil e matéria-prima, a primeira e a segunda derivada desse processo.
Porém, o governo americano atual, que está se aproximando da Rússia para uma negociação, ainda é bem volátil e antes é preciso resolver o acordo de paz.
Apesar das preocupações, a possibilidade de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia tem alimentado o apetite por risco nos últimos dias, mesmo após os ataques verbais de Trump ao presidente ucraniano, que chamou Zelensky de “ditador”.
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O post 3 anos da guerra na Ucrânia: Rupturas no comércio, mudança de pêndulo político na Alemanha e acordos entre EUA e Rússia apareceu primeiro em Empiricus.